sexta-feira, 25 de janeiro de 2019



São Francisco em Punta del Este 

Não se assuste, nem se impressione, São Francisco de Assis, o pobrezinho de Assis, eleito com justiça o Homem do Segundo Milênio pela revista Time, não reencarnou em Punta del Este e não está fisicamente por lá, aproveitando o verão. A conversa e as inspirações são outras.

Punta del Este é um dos destinos turísticos mais charmosos do mundo, com sua natureza, gastronomia, limpeza, segurança, simpatia dos uruguaios e, há poucos dias, recebeu, merecidamente, importante certificado da Organização Mundial de Turismo, instrumento adequado para reforçar a competitividade e a sustentabilidade já bem conhecidas do turismo uruguaio, grande fonte de divisa do país. Em meio aos hotéis, pousadas, paradores, restaurantes, edifícios de requintada arquitetura, casas e mansões milionárias e às toneladas de glamour que reinam no balneário, está a Capela de Nossa Senhora de Fátima, dos frades capuchinhos.

A austera construção tem telhado de zinco, paredes simples pintadas de branco e poucas imagens penduradas. A pequena área de aproximados 200 metros quadrados gera intimidade e aconchego. Ao lado está uma modesta construção térrea, de simplicidade fransciscana, onde está o eremitério para os eremitas urbanos. Nos fundos uma parrilla abandonada. No interior da capela bancos simples de madeira e imagens de Nossa Senhora de Fátima, de São Francisco de Assis e do iluminado Padre Pio de Pietrelcina.

É um local franciscano ao extremo, que em meio ao luxo e à riqueza da cidade, nos faz lembrar de simplicidade, pobreza, compaixão, amor aos animais, espírito cristão e nos faz pensar nas palavras da imortal Oração de São Francisco. Localizada na esquina da Chiverta com a Italo dell'Oro, parada 3, está a poucos metros do imponente Hotel Enjoy Punta del Este, anteriormente chamado de Conrad. Inaugurado em 1997, o hotel tem cassino de três mil metros quadrados, 294 apartamentos, ocupa todo o quarteirão e dividiu a história de Punta, fundada em 1907.

Com o hotel, a ideia foi dar vida à Punta o ano todo. Assim é a vida, assim é Punta. Riqueza e pobreza, simplicidade e complexidade, passado, presente, futuro e os pássaros nos ares não dando a mínima para as complicações e as belezas humanas. A capela dos capuchinhos, localizada em terreno altamente valorizado, está lá para lembrar que é preciso ouvir o silêncio, meditar para acariciar nosso coração e os dos outros e para mostrar que o dinheiro deve ser um bom servidor e não um péssimo chefe.

Se o amor, a bondade, a solidariedade, a justiça social e a liberdade mandarem no dinheiro, melhor. Se ele, absoluto, mandar em tudo, bom, aí seremos muito pobres, como muitos que de tão pobres só tem dinheiro, muito dinheiro, demais dinheiro. Há quem diga que o dinheiro tem que ser nosso escravo e não nosso senhor. Não gosto nem de pensar em escravos e senhores. Melhor pensar em colaboradores e líderes. Ou em líderes e empresários servidores, como querem alguns. 

A propósito...

São Francisco de Assis foi um clarão que iluminou o mundo no século XIII e é um dos santos mais importantes da Igreja Católica, que tem mais de sete mil santos. Infelizmente, Francisco não foi e nunca será majoritário na Igreja, mas merece as homenagens do Papa Francisco e as de todos que conseguem ter uma sensibilidade e um olhar mais humano sobre as pessoas, o planeta e a natureza.

Sabia tudo São Francisco e sabia que deveria estar em Punta, para que os ricos não se tornem ricos pobres, desses que santificam só as moedinhas de ouro. Moedinhas que são devoradas, frequentemente, pelas engrenagens e máquinas dos cassinos, onde as pessoas mostram que, no fundo, querem até se livrar do vil metal. -

Jornal do Comércio (https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/colunas/livros/2019/01/666688-repensando-as-cidades-para-2050.html)

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