sábado, 14 de dezembro de 2019



14 DE DEZEMBRO DE 2019
CAPA

"Sempre quis ser ponte, nunca quis ser muro"

Qual a importância de uma mulher mais velha ser protagonista em horário nobre na TV?

É muito legal. Você passa a infância toda ouvindo que você "vai ser alguém". Quando você faz 20 anos, você "vira alguém" e tem que aproveitar muito porque, a partir dos 40, você vai deixando de ser o alguém que você foi (risos). É só lembrar o termo usado a vida inteira para a atriz que protagoniza a novela: ela é a mocinha da novela. A vida é muito maior do que isso. Em qualquer momento, você pode ser feliz, produtivo, criativo. Isso é uma vitória das mulheres em geral. É uma quebra de um padrão estético, de idade, de tudo.

Temos visto muitas atrizes da sua geração chamarem a atenção para o tema, aproveitando a sua visibilidade.

É um outro momento da sua vida, que você vai curtir outras coisas. Uma menina de 20 anos não sabe a alegria que foi, para mim, ganhar um neto. Quando eu tinha 20 anos, não podia imaginar que ia passar por uma coisa tão maravilhosa. É diferente, cada momento tem suas dores e alegrias.

O que você tem aprendido com a personagem Lurdes neste início de novela?

A Lurdes é um mosaico feito com o que eu aprendi durante os anos em que viajei o Brasil todinho. Um dos últimos programas que gravei (no Esquenta) quando a gente ia na casa das pessoas era uma família que morava aí no Sul. Era uma mãe que criou os filhos sozinha e trabalhava no campo. Ela era uma dona Lurdes também, apesar de ser bem branquinha. Quando eu olhava uma mulher como ela, seja no Norte, Sul ou Centro-Oeste, eu ficava tão apaixonada e impactada ao pensar como é que aquela mulher faz aquele milagre diário de cuidar dos filhos sozinha, não ter um pai em casa, ninguém que ajude e, ao mesmo tempo, manter a alegria, não virar uma pessoa amarga. Fui guardando tudo o que aprendi com essas mulheres no meu coração. A Lurdes é um transbordamento desse amor que eu senti por elas.

Em outra entrevista, você resumiu a Lurdes na palavra "coragem". E a Regina mãe, como se define?

Deixa eu pensar? A minha relação é muito mais de amor. Eu sou apaixonada pelos meus dois filhos e pelo meu neto de uma maneira... É uma paixão avassaladora. Não é uma coisa calma, entendeu? Eu sou apaixonada mesmo! Eu digo que tenho saudade do Brás, meu neto, o dia inteiro, igual namorado novo (risos). Só penso naquilo, quero sair correndo e me jogar nos braços dele!

O seu caminho da maternidade foi inverso ao da personagem de Taís Araujo: primeiro você teve uma filha biológica e, depois, um adotivo. Você sempre soube que queria ser mãe?

Quando eu era novinha, não tinha certeza. Não fui daquelas mulheres que cresceu para a maternidade. Depois, engravidei naturalmente sem ter planejado e levei um susto porque, quando descobri que estava grávida, faltava, sei lá, menos de um mês para estrear a peça Nardja Zulpério (monólogo escrito e dirigido por Hamilton Vaz Pereira). "Meu Deus, minha vida vai virar de cabeça pra baixo", eu pensei. Depois que a Benedita veio, meu pensamento mudou. A maternidade não era algo com que eu sonhava, mas, se não tivesse experimentado essas emoções, nossa, como minha vida seria mais pobre.

O que mudou na criação de seus filhos, considerando que na primeira você tinha 35 anos, e o segundo veio quase aos 60?

Muitas vezes, peço desculpas para a Benedita. O nascimento dela foi conturbado, eu e ela quase morremos, e isso criou um grude entre a gente, uma coisa fora do normal. Fui uma mãe mais apavorada, superprotetora, medrosa com a Benedita. Já com o Roque? Eu digo que a natureza não é sábia porque uma mãe mais velha é uma mãe muito melhor do que uma mãe novinha (risos). Sou uma mãe muito melhor para ele.

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