sábado, 21 de dezembro de 2019



21 DE DEZEMBRO DE 2019
J.J.CAMARGO

NÃO SE ANUNCIE IMPORTANTE. APENAS SEJA, PARA ALGUÉM

UMA REFLEXÃO SOBRE AUTOESTIMA, HUMILDADE, VAIDADE E INVEJA

Há muito se sabe que um sinal confiável de que estamos envelhecendo é quando começam a pipocar homenagens. Tudo muito compreensível e saudável, afinal o polimento do ego faz parte da preservação da autoestima, que funciona desde sempre como um monitor da nossa relação com o mundo.

Previsivelmente, a reação à homenagem depende do perfil do homenageado. Os humildes vão sempre considerá-la exagerada e partem em busca de alguém que os represente na cerimônia. Enquanto que os vaidosos, além de lamentar o atraso, mal conseguem dissimular o enfaro que nasce da convicção de que não adianta, porque os invejosos nunca dimensionarão sua importância.

Esses comportamentos bizarros são frequentes e não obrigatoriamente vinculados à idade dos personagens. Porque os vaidosos já nascem assim, ainda que muitas vezes tenham tido uma criação que os requintou.

Numa conversa de garotos no parque, de repente começou a gincana do pai mais rico. De acordo com o fascínio da época, nada distinguia mais o herói do que o carrão que possuía. E a supremacia ficava humilhante se o paizão, todo poderoso, tivesse mais de um carro.

O Renatinho era tímido por natureza e ouviu em silêncio a lista de proprietários de três, cinco e seis carros. Por ele, não se meteria, mas foi desafiado:

- E aí Renato, teu pai tem carro ou anda de bicicleta?

- Meu pai tem 500 caminhões! - respondeu.

- Era o que faltava, seu baixinho, mentiroso e metido à besta, acha o que que somos o quê, imbecis?

Todo estropiado, o Renatinho entrou em casa se arrastando. Apanhara como um cão de rua, sem ter tempo de dizer que o pai era dono de uma das grandes transportadoras do Brasil. Mas isso, naquela hora, não importava. Fosse o que fosse, aquele número era grande demais e merecia uma boa surra.

No outro extremo, com a mão enrugada sempre apoiando o queijo e a solidão, estava o Edmundo, velhinho corcunda, abandonado pela família que o colocara no asilo no dia seguinte à festa dos 88 anos. Tinha uma cabeça boa demais para reclamar e esqueleto de menos para ser útil.

Um dia, amargurado, se queixou para a psicóloga de que ele era o único que não recebia visitas e estava cansado dos pacotes de presentes que recebia toda semana, sem ninguém para abraçar. Quando a psicóloga, querendo animá-lo, disse:

- Pois eu acho que o senhor devia agradecer a Deus por ser o único da clínica que não tem Alzheimer. Os outros nem sabem que recebem visitas!

- Pois preferia ser como eles, porque não recebo ninguém, e eu sei! 

P.s.: caros leitores, abracem muito. E não tentem substituir com presentes o significado do Natal.

J.J.CAMARGO

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