sábado, 21 de dezembro de 2019


21 DE DEZEMBRO DE 2019
ARTIGOS

VIVÊNCIAS DE FIM DE ANO

Fim de ano se aproximando e, com ele, sensibilidades ímpares e surpreendentes para muitos costumam aflorar. Não raro, somos desacomodados por alguma melancolia que chega sem pedir licença, difícil de se descrever, talvez expressa nas palavras de Guimarães Rosa: "[...] eu às vezes tenho uma saudade de uma coisa que eu não sei o que é, nem de donde, me afrontando...".

Voando doidamente durante o ano, o tempo, em finais de dezembro, como agora, parece querer parar e nos convida ao confronto com términos e possíveis recomeços: tarefa nada fácil. A percepção ou a intuição da finitude, seja de um tempo, de uma era, de uma vida ou de um vínculo se constitui em uma das maiores dores do ser humano e gera inevitável angústia, que nos acompanha, como pano de fundo, silencioso ou não, durante toda a existência.

A expectativa da virada do ano nos acena com passagens de outra forma imperceptíveis. Paradoxalmente, confrontados com o transcorrer do tempo, tendemos a um certo catastrofismo, como a julgar eternos os momentos pelos quais passamos, sejam de bonança ou desventura.

As agruras parecem eternas, as euforias parecem definitivas. Ledo engano. Momentos assim, de emotividade, transpostas as dificuldades inerentes, e reunida a necessária coragem, prestam-se a vivências importantes, para não dizer essenciais. Como apontou certa vez Cazuza, em Codinome Beija-Flor, quem prende o choro acaba aguando o bom do amor. Assim, valioso e inexorável tempo, és essencial às transformações que nos aguardam, com vagar e verve, para pensar, lembrar, refletir, ou simplesmente sentir.

Eu, em meio a incontáveis finitudes que poderia enumerar na humanidade, pressinto algo de perene embutido exatamente na passagem do tempo: é a mágica do segundeiro da vida, batendo incessantemente suas asas ligeiras e invisíveis, provocando lufadas de ar e algo mais, indizível, a perpassar e conectar tempos e gerações. Se não puder ser feliz o ano novo que bate à porta, no sentido de contente e pleno, que seja genuíno e verdadeiramente vivenciado. Pois, assim, o relógio segue seu passo, e com ele, as transformações.

IDETE ZIMERMAN BIZZI

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