sexta-feira, 13 de agosto de 2021


13 DE AGOSTO DE 2021
DAVID COIMBRA

Tarcísio Meira, o verdadeiro Dom Pedro I

Estávamos em meio ao Timeline de ontem quando o Potter foi avisado por uma fonte sobre a morte do ator Tarcísio Meira. Ficamos chocados, até porque a notícia ainda não havia sido veiculada nem mesmo pela emissora de Tarcísio, a Rede Globo.

Tarcísio Meira não era qualquer artista - durante décadas, ele foi o principal galã brasileiro, uma espécie de Brad Pitt caboclo. Havia certa rivalidade entre ele e Francisco Cuoco por esse, digamos, "cargo" de bonitão das telas. Quem venceu, isso é que não sei.

Sei que Tarcísio conseguiu ir além de seus méritos estéticos. Na TV e no cinema, ele se metamorfoseou na imagem de dois personagens icônicos do Brasil. Um deles, extraído da literatura, o Capitão Rodrigo, herói supremo de O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo. Tarcísio Meira se transformou em Capitão Rodrigo e o Capitão Rodrigo se transformou em Tarcísio Meira. Houve outros capitães Rodrigos, mas nenhum tão genuíno quanto o encarnado por Tarcísio Meira.

O outro personagem a quem Tarcísio deu o rosto foi extraído da História, o imperador Dom Pedro I. Em 1972, o Brasil comemorava o sesquicentenário da independência. Aprendi o significado dessa palavra sesquipedal naquele ano, de tanto que foi usada. Vivíamos os tempos ufanistas do milagre brasileiro. Médici era o ditador-populista, Delfim era Rei da Economia, o Pelé o Rei do Futebol e Roberto Carlos o Rei da Música. O Brasil avançava para se tornar superpotência. Esse é um país que vai pra frente, cantavam Os Incríveis.

Nós, guris de subúrbio, não fazíamos a menor ideia de que se cometiam torturas nos porões do regime ou coisa que o valha. Lembro de ver, nos ônibus, cartazes com fotos dos terroristas procurados. "Assaltaram, roubaram, mataram pais de família", informavam os cartazes. Aquilo parecia distante de mim. Parecia algo de outro planeta. Quem eram aquelas pessoas? O que queriam? Eu não sabia.

Em 1972, aproveitando as festividades do sesquicentenário da independência, foi lançado, com estardalhaço, o filme Independência ou Morte, com Tarcísio Meira no papel de Dom Pedro. Eu, meu irmão Régis e minha irmã Silvia fomos assistir ao filme no Cine Rey, na Assis Brasil. Era a primeira vez que íamos ao cinema sozinhos, uma emoção. Nunca mais esqueci da excitação em que estávamos eu e meus irmãos nas poltronas do velho Cine Rey. Não sei como seria se víssemos o filme de novo, agora, mas, na época, achamos uma obra-prima. Saímos do cinema repetindo o grito de Dom Pedro às margens plácidas do Ipiranga:

- Independência! Ou morte! Independência ou morte!

Tarcísio Meira havia conseguido nos comover em seu papel de valente e enérgico herói da pátria. Essa a sua grandeza como ator. Ele não foi um só. Ele foi muitos.

DAVID COIMBRA

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