segunda-feira, 30 de agosto de 2021


30 DE AGOSTO DE 2021
DAVID COIMBRA

As coisas importantes da vida o dinheiro não compra

Educar um filho é uma tarefa muito complicada. Muito. Você está formando um ser humano, afinal. Só que, neste caso, você não pode se considerar autor. Não é como escrever um livro, por exemplo, ou pintar um quadro, ou construir uma casa. Não. O livro, o quadro e a casa serão aquilo que você fizer deles. Uma pessoa, não. Porque a pessoa sofre outras influências. De outras pessoas, do meio ambiente, de suas próprias demandas internas.

Então, você, como pai, passa o tempo todo em dúvida: será que estou forçando muito? Será que estou sendo muito frouxo? Qual é a medida certa?

É inegável que o exemplo é o mais importante. A vida não está pronta para ninguém. Assim, você faz as coisas de um jeito e, se o seu filho o tem como modelo, é nisso que ele vai se basear.

Atitudes, portanto, são mais eficientes do que palavras. Mesmo sabendo disso, sempre repeti algumas máximas para o meu filho, com o objetivo de introduzir aquilo em sua cabeça. É a tática da propaganda. Uma das frases que sempre lhe digo é:

- Nós comemos de tudo.

Deu certo. Meu filho come brócolis, mocotó, polvo e massa com sardinha. Sem frescura. Claro, um lema pode acabar se voltando contra você, e isso aconteceu comigo. Meu filho tinha uns quatro anos de idade e nós estávamos à mesa. A Marcinha foi me servir de um pedaço de galinha e recusei:

- Não, não, obrigado. Não estou a fim de galinha.

Ele, pequeninho, mas grandemente sarcástico, me lançou um olhar comprido e perguntou:

- Ué? Nós não comemos de tudo?

Tive de comer a galinha. Outra que sempre digo para meu filho é:

- As coisas mais importantes da vida o dinheiro não compra.

E arremato: o dinheiro compra companhias, não amigos; o dinheiro compra remédios, não saúde; o dinheiro compra prazer, não amor.

Óbvio que o dinheiro é fundamental para você ter uma vida digna e suprir suas necessidades, mas as coisas realmente importantes não podem ser medidas em dólar.

Estou criando uma alma desapegada a valores materiais, pensava eu, com certo orgulho, até porque volta e meia meu filho repetia a frase: "As coisas mais importantes da vida o dinheiro não compra". Só que, neste final de semana, alguém fez a ele aquela pergunta que os adultos adoram fazer às crianças:

- O que tu quer ser quando crescer?

E ele, sem hesitar: - Quero ser rico. Muito, muito, muito rico!

Olhei para ele, incrédulo, e repeti em silêncio para mim mesmo a máxima mais verdadeira de tudo isso que escrevi: educar um filho é, mesmo, uma tarefa muito complicada.

DAVID COIMBRA

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