sexta-feira, 27 de agosto de 2021


27 DE AGOSTO DE 2021
CELSO LOUREIRO CHAVES

Vale a pena ancorar no canal do Instituto Piano Brasileiro

Durante a pandemia, o remoto tem sido rei. Quem haveria de pensar, dobrando a esquina do passado próximo, que as telas seriam nossos abraços e afetos, como se pudessem substituir o real? Mesmo assim, tem sido possível descobrir muita coisa, nessa profusão de lives, podcasts, webinars, estas novidades de tempos estranhos. Uma das minhas descobertas foi o canal do Instituto Piano Brasileiro no YouTube. Tenho a impressão de que o Instituto, tão pré-pandêmico quanto o YouTube, assumiu o protagonismo de resgatar a música brasileira de concerto em vídeos, áudios e partituras, revelando o que estava esquecido ou mesmo se desconhecia.

Sou um adepto dos vídeos do Instituto. Por exemplo: as músicas de Ernesto Nazareth, pianeiro do início do século passado, têm chamado a minha atenção. Uma vez toquei Nazareth numa audição de alunos no Instituto de Artes da UFRGS, as velhas professoras torcendo o nariz: aquilo não era música, muxoxeavam, era sacolejo de rua.

Mas, confirmo agora, Nazareth é ainda mais do que apenas o compositor de Odeon, que Vinicius de Moraes amava a ponto de colocar letra no que era pura música para piano ("O meu chorinho quando pega e chega / Assim devagarzinho / Meia-luz, meia-voz, meio tom / Meu chorinho chamado Odeon"). Nazareth foi o músico das valsas, polcas, estudos, tangos, batuques. Criatividade sem limites que dá gosto de ouvir, surpresa e prazer a cada compasso.

Pois por esses dias, o IPB também colocou na roda a música do meu mestre Armando Albuquerque, num registro esquecido da Bienal de Música de 1977: o Divertimento para Dois Pianos que Armando, para meu orgulho, dedicou a mim e à pianista Neusa Prado. Fizemos a estreia da peça, ela e eu. Mas quarenta e tantos anos depois, eu tinha esquecido de como o Divertimento é bom e já me disponho a voltar a ser pianista para ter o prazer de sentir essa música novamente sob os dedos. Nazareth e Albuquerque. Dois resgates, apenas dois entre muitos. Vale a pena ancorar ali no YouTube para ver (e ouvir) o que o Instituto Piano Brasileiro inventa dia após dia. Essas descobertas quase fazem valer a pena o isolamento, não fosse a falta dos abraços e dos afetos, quase preenchidos pelos sons. Quase.

CELSO LOUREIRO CHAVES

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