sábado, 21 de agosto de 2021


21 DE AGOSTO DE 2021
J.J. CAMARGO

OS AMIGOS POLÍTICOS

Logo depois que conquistamos o privilégio de sair de casa com a chave no bolso e tudo o que isso significava de liberdade, aprendemos que os maus frequentam todas as rodas, com uma naturalidade proporcional ao número de maus que os rodeiam. A periculosidade de um lugar ou bairro, e a polícia sabe bem disso, se estima por este percentual da malignidade presumida.

Mesmo os ambientes mais sacrossantos não estão livres de toda a iniquidade, e a presença de Judas entre os discípulos de Jesus é a prova mais antiga disso.

Por outro lado, a escolha de uma profissão pode ser vista como um indicativo do tipo de personalidade, pois se imagina que um guarda florestal seja mais meigo do que um agente de narcóticos, ou que um funcionário da receita federal seja menos tolerante a explicações do que um selecionador de candidatos para um trabalho voluntário.

Mas ainda assim, respeitadas essas vicissitudes e descontadas as implicâncias, vamos encontrar bons e maus em todas as atividades humanas.

Há, inegavelmente, uma tendência crescente de demonizar os políticos, o que não se constitui em nenhuma novidade, porque eles já eram fontes de humor cáustico nas comédias satíricas desde sempre, com Dante, passando por Shakespeare, Cervantes e Molière.

Talvez o que mais afeta a confiabilidade nos políticos profissionais seja a sensação permanente de que a sobrevida deles no meio que poluem se condiciona à manutenção de vínculos que assegurem estabilidade na janela que a mídia decora semanalmente, e que é consultada pelas lideranças para decidir, com isenção de um capo napolitano, quem permanece na vitrine e a quem se pedirá, com ares de generosidade, que solicite umas férias por razões de saúde, em nome, claro, da amizade tão antiga quanto fraterna.

A luta pela sobrevivência, em qualquer função, deve ser entendida como um instinto primário e ser vista como compreensiva, pura e natural como a preservação da vida. Mas quando essa dependência é transferida para a política, antes de ser antiética e indecente ela é pobre e humilhante. Encha uma sala de celebridades para uma cerimônia qualquer que tenha a regência de um político de ofício e descobrirá o esmero com que o político travestido de mestre de cerimônia citará todos os representantes de bancadas, preocupado em garantir igual deferência quando, no futuro, ele estiver na sombra dos holofotes.

Uma prática recorrente inclui o hábito novo de, ao iniciar um novo parágrafo, citar nominalmente algum dos colegas presentes, dando prestígio ao anunciado e deixando a galera com a sensação de anônima insignificância.

Claro que pode ser implicância minha, mas recomendaria aos mais jovens que tenham não preconceito, porque isso encolhe o portador, mas um certo cuidado com amigos políticos, porque se um dia algum interesse pessoal deles se atravessar entre você e outro político, eles sacrificarão essa amizade consigo, sem titubear. E sem remorso. Então, admita para si, e em silêncio, que a amizade com o escorpião era desde o princípio uma iniciativa temerária, porque a infidelidade é um traço de caráter que, como tal, não se modifica. Então, quando isso ocorrer, não se queixe, nem aparente surpresa. Não fará bem para a sua autoestima combalida os outros descobrirem que só você ainda não sabia disso.

J.J. CAMARGO

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