sábado, 28 de agosto de 2021


28 DE AGOSTO DE 2021
FLÁVIO TAVARES

O CRIME COMPEN$A?

Propalar invencionices e mentiras pode transformar-se em milionária fonte de renda, tal qual demonstrou agora o corregedor do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Salomão, ao mandar congelar as receitas das chamadas redes sociais bolsonaristas.

No YouTube, os canais dedicados a ofender os críticos do presidente da República (e a santificar o que ele diz ou faz) tiveram receitas anuais de R$ 15 milhões a partir de 2019. Por outro lado, a Procuradoria-Geral da República contabilizou outros R$ 5,7 milhões obtidos, a cada ano, por canais menores, mas similares em conteúdo agressivo, de junho de 2018 a maio de 2020.

O cerne de tudo provém do "gabinete do ódio" instalado no Palácio do Planalto. Nada é mais convincente do que uma mentira elaborada com rigor, em que cada detalhe é pensado para atingir um fim. Em contraposição, a verdade é aquilo que é, sem admitir retoques ou emendas que lhe alterem o rosto. Assim, às vezes, a verdade se torna rude em si.

As tais "redes sociais" deram status à mentira. Prometem revelações "secretas ou desconhecidas" e têm milhões de seguidores ávidos por saber o que se oculta. O canal oficial de Bolsonaro tem 3,5 milhões de inscritos. Os investigados agora pelo TSE, outros 10,1 milhões.

Esses centros de invencionices têm propagandas pagas e recebem doações dos fanatizados usuários, passando a ser rentáveis, mesmo que nada produzam. A não ser fantasiar ou mentir, como no caso das urnas eletrônicas. Ou em chamar a covid-19 de "gripezinha", desmobilizando a população nos cuidados com a pandemia.

Vivemos hoje situações tão absurdas, que é lícito indagar: será que tudo mudou tanto que até o crime compen$a?

Quando se lida com o interesse público, até os erros de avaliação podem equivaler a um crime. É o caso de Porto Alegre, com a alteração do Plano Diretor para permitir enormes arranha-céus no centro da cidade.

E o mais desolador: a decisão se faz em nome da revitalização da área central, tão maltratada nos últimos anos. Os vereadores e o prefeito Melo não perceberam que o "centro histórico" irá se tornar sombrio, sem sol, com altas edificações impedindo sequer vislumbrar o céu azul?

A especulação imobiliária já transformou a capital gaúcha numa cidade vertical. Todo dia desaparecem as casas residenciais que, nos bairros, coloriam a cidade com jardins floridos à entrada. Dir-se-á que a população cresceu, mas até por isto é inexplicável que, no futuro, arranha-céus imensos escondam o sol.

FLÁVIO TAVARES

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