segunda-feira, 9 de setembro de 2024


09 DE SETEMBRO DE 2024
PRIMEIRO FIM DE SEMANA

PRIMEIRO FIM DE SEMANA

Público desafiou tempo nublado e rápida pancada de chuva para prestigiar, no sábado, a abertura do tradicional evento, que ocorre no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, em Porto Alegre. Há pontos de coleta espalhados pelo local para arrecadar donativos para atingidos pela tragédia climática

A cerimônia de chegada da chama ao Parque Maurício Sirotsky Sobrinho teve a participação de outro homenageado especial, o sobrevivente da cheia André Ribeiro, 58 anos, conhecido como André Laçador - apelido herdado do tempo em que manejava o laço. Embora tenha perdido quase tudo que tinha, atuou como voluntário durante o período agudo da crise na Capital

Já Caramelo, vestindo uma capa roxa com seu nome, foi uma das grandes atrações do dia. No palco, o coral da 1ª Região Tradicionalista entoou os hinos do Rio Grande do Sul e do Brasil.

Costelão e ovelha

Desde antes das 10h, a fumaça das churrasqueiras queimando lenha e carvão já tomava conta do parque. No piquete Gaudérios da Harmonia, os integrantes se preparavam para espetar um costelão de gado e uma ovelha inteira acima da brasa.

- Estamos muito felizes porque, depois da enchente, teve gente dizendo que não deveríamos fazer o acampamento neste ano. Mas a vida tem de continuar - afirmou o guaiaca do piquete (espécie de diretor financeiro), Claudio Costa.

Há pontos de arrecadação no evento para os atingidos pela enchente. Materiais de higiene, limpeza, alimentos não perecíveis, itens elétricos e domésticos estão entre os donativos solicitados.

600 quilos de carne

 Tivemos público grande ontem (sábado). É uma tradição - comemorou o sócio Jarbas Caneppele, 47 anos.

Luciano Leon, CEO do Paleta Atlântida, churrascada já conhecida pelo sucesso nas areias do Litoral Norte, também começou a trabalhar cedo, empolgado com o evento no qual está pela primeira vez:

- Ficamos surpresos com o volume de pessoas. Está muito organizado aqui com a nova administração, é possível afastar aquela imagem de que se chover alaga tudo.

Novato este ano, o pavilhão da Agricultura Familiar pede mais divulgação para reforçar o público. É o ponto certo para quem procura doces, geleias, pães, biscoitos, cucas, sucos e mais uma variedade de gostosuras. _

Os dois homenageados na abertura do Acampamento Farroupilha, no sábado, enfrentaram desafios semelhantes durante a cheia de maio: surpreendidos pelo avanço da água, deram demonstrações de resiliência que emocionaram o Estado.

Desde então, seguiram caminhos bem diferentes. O cavalo Caramelo encontrou um novo lar no campus da Ulbra, em Canoas, onde vive sob acompanhamento constante, enquanto o catador de recicláveis e ginete André Ribeiro, 58 anos, voltou para uma casa com frestas nas paredes de madeira e segue sonhando em conseguir um novo lar.

- Consegui recuperar alguma coisa que perdi. Mas o que eu precisava mesmo era de outro lugar para morar. Por enquanto, não consegui nem receber os R$ 5,1 mil (do Auxílio Reconstrução) - conta o reciclador, que mora no bairro Humaitá.

Sua história ganhou repercussão pelo fato de que, mesmo tendo sido forçado a viver 45 dias no abrigo localizado no Centro Vida, na Zona Norte, ajudou a resgatar outras vítimas durante o período mais crítico da enchente e atuou como voluntário, auxiliando a descarregar donativos. Foi convidado a participar da cerimônia pela secretária de Cultura e Economia Criativa de Porto Alegre, Liliana Cardoso.

Figura nacional

Caramelo, desde que se transformou em figura nacional após ser flagrado resistindo em pé sobre um telhado cercado pela enchente em Canoas, engordou cerca de 50 quilos e hoje pesa 305 quilos. Com oito anos de idade, sem raça definida, se recuperou completamente do período em que permaneceu dias a fio no topo de um galpão, se alimenta bem e não depende de nenhum remédio ou suplemento alimentar.

Já Ribeiro contou com auxílio de algumas pessoas, mas ainda enfrenta dificuldades para retomar o trabalho como catador de materiais recicláveis. Conseguiu salvar o que lhe era mais caro: uma bandeira do Rio Grande do Sul, uma guaiaca com uma fivela metálica e uma bombacha.

Apesar de seguir lutando para se recuperar por completo dos estragos da cheia, se mostrou radiante com a oportunidade de conduzir a Chama Crioula:

- Meu aniversário é no dia 18 de setembro. Pra mim, isso foi um presente de aniversário. O melhor que eu já recebi. _

MARCELO GONZATTO ADRIANA IRION

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