sábado, 1 de setembro de 2012



01 de setembro de 2012 | N° 17179
PAULO SANT’ANA

Os dois gays

O leitor José Bragé, residente em Capão da Canoa, relata a este colunista que há quatro anos adquiriu uma moto Honda Biz para percorrer pequenos trajetos em sua cidade. A mais distante viagem que fez foi até Osório.

E conta que há três anos, um belo dia, recebeu uma multa por uma infração de trânsito que teria cometido em Porto Alegre, uma cidade que nunca foi rodada por sua moto.

A multa foi por não ter parado numa barreira policial e estar com o farol apagado. Mas como, diz o leitor, se nunca fui a Porto Alegre com minha moto? E mais: sua moto liga o farol automaticamente quando dá a partida.

Como é praxe, diz o leitor, recorreu da multa e seu recurso foi indeferido. Pois, então, pagou a multa.

É mais um dos infindáveis relatos de multas injustas e arbitrárias que são passadas por agentes e chanceladas pelas autoridades de trânsito e pelas famigeradas Jaris (que examinam os recursos). É claro que não examinam recurso algum.

Até quando vai durar esse escândalo?

Dois homossexuais masculinos me escrevem para contar seu drama: moram em Uruguaiana e moram juntos, mantendo união homófila. Ou seja, há cinco anos, mesmo sendo homens, têm uma relação estável, como se fossem marido e mulher.

Pois bem, esse casal de gays que me escreve reclama veementemente porque em Uruguaiana não permitem a entrada de gays nos bailes dos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs).

Os dois são fissurados em tradições gaúchas, amam o folclore, adoram todas as canções gauchescas, mas são impedidos de frequentar os bailes nos CTGs.

Eles declaram que os direitos dos gays vêm sendo consagrados no mundo inteiro e aqui no Brasil já se permite até o casamento entre dois gays masculinos ou femininos.

Eles são radicados e empregados em Uruguaiana, não têm como se mudar de lá, querem o direito que sabem que possuem até por lei de frequentar os bailes, de se divertirem.

Juram que não se comportarão mal nos CTGs, que sabem ser discretos e respeitadores das normas sociais.

Além de grandes amantes das tradições gaúchas, eles gostariam de conviver socialmente nos CTGs. Sentem-se, com essa proibição, privados de sociabilidade em sua própria cidade.

Apelam para este colunista para que eu ajude a solucionar o que eles chamam de “nosso impasse existencial”.

E este colunista nada mais pode fazer do que estou fazendo: pedir a compreensão dos dirigentes e associados dos CTGs uruguaianenses com o drama desses dois cidadãos ordeiros, respeitadores, sociáveis, que apenas não transigem em não deixar de exercitar suas vocações sexuais.

Tenho certeza de que até mesmo entre tradicionalistas uruguaianenses há muita gente que dá razão para estes nossos dois gays.

Evidentemente que os dois têm carradas de razão.

Só não mandaram me dizer se pretendem ir aos bailes gauchescos pilchados, mas isso não faz diferença.