quinta-feira, 24 de outubro de 2013


24 de outubro de 2013 | N° 17593
EDITORIAIS ZH

IMPREVIDÊNCIA ADMINISTRATIVA

Sempre que uma chuva ou temporal provoca alagamentos numa região altamente urbanizada, como ocorreu ontem na região metropolitana de Porto Alegre, as alegações dos administradores públicos se assemelham: tudo se deve a uma precipitação atípica. Ora, as cidades modernas têm que estar preparadas também para eventos climáticos menos rotineiros.

O planejamento urbano exige isso: sistemas de escoamento eficientes para possibilitar a mobilidade urbana e para preservar a segurança das pessoas. Não foi o que se viu ontem em municípios como Sapucaia do Sul, Esteio, Canoas, Gravataí, Cachoeirinha e parte da Capital. O caos no trânsito, o desespero das pessoas diante do cerco das águas e a descontinuidade em serviços básicos compõem um quadro de absoluta imprevidência administrativa. A prioridade, neste momento, é socorrer quem saiu prejudicado, mas a sociedade não pode perder mais esta oportunidade de debater alternativas concretas de prevenção.

De alguma forma, o colapso registrado agora guarda semelhança com o que ocorreu há pouco mais de um mês em áreas vitais da Região Metropolitana. Em setembro, centenas de residências do bairro Sarandi e até mesmo instalações da Federação das Indústrias (Fiergs), na zona norte da Capital, foram invadidas pelas águas do Arroio Feijó, que também atingiram Alvorada.

Na mesma época, o Arroio Esteio também transbordou, inundando o estacionamento da Expointer, a ponto de dificultar o acesso de visitantes e de prejudicar expositores. Agora, além dos prejuízos diretos a parcelas expressivas da população, o mau tempo afetou parcialmente até mesmo o trensurb, além de paralisar momentaneamente o tráfego de veículos num trecho importante da BR-116, que foi invadida pelas águas, e de afetar a circulação em outras vias da região.

Em vez de responsabilizar apenas o poder público _ que não tem como controlar alterações climáticas, mas deveria planejar melhor o ambiente urbano _, a sociedade precisa refletir sobre qual seria a sua parte na prevenção de fenômenos como inundações. Entre as hipóteses levantadas para o atípico represamento das águas em Sapucaia do Sul, está o acúmulo de detritos provocado pela demolição de residências para a ampliação da ERS-118.

Tanto a população, quando não manuseia adequadamente o lixo, por exemplo, quanto o poder público, quando deixa de fazer ou posterga obras como a canalização de mananciais, ou, ainda, tolera a ocupação em áreas de risco, têm sua parte de responsabilidade nesse tipo de ocorrência, que é, em muitos casos, previsível.


O poder público, em todas as instâncias da federação, precisa se mostrar mais preo- cupado com investimentos em infraestrutura capazes de atenuar dramas como o dos alagamentos. Esse interesse será maior se a sociedade se revelar mais consciente em relação à questão, fazendo a sua parte para atenuar o problema e cobrando ações efetivas dos governantes.