sábado, 26 de outubro de 2013


26 de outubro de 2013 | N° 17595
NÍLSON SOUZA

A armadilha das vírgulas

Sei que os 7 milhões de candidatos que farão a prova de redação do Enem amanhã já devem ter lido e ouvido centenas de recomendações sobre como fazer um bom texto.

São muitos os nãos: não faça períodos longos, não use gírias, não repita argumentos, não escreva menos de sete linhas, não ouse afrontar os direitos humanos e nem pense em brincar, fazer desenhos ou escrever palavrões. Os infratores serão punidos sumariamente com um impiedoso zero. Diante de tantas restrições e ameaças, não é de admirar que a garotada sinta calafrios para preencher a folha em branco.

Calma, gente, não é tudo isso. Escrever é como falar: basta pensar um pouco antes. Sempre que algum jovem vem me dizer que não consegue elaborar um texto, costumo perguntar: como você contaria essa história para um amigo? Se o ouvinte entender, rir ou duvidar, é porque a história teve começo, meio e fim. Fez sentido.

A redação tem que fazer sentido. Alguém, do outro lado da leitura, tem que entender a mensagem que você escreveu. Simples assim. Portanto, conte a sua história da melhor maneira que você sabe contar. Seja autêntico. Defenda sua tese, suas ideias, argumente e chegue a uma conclusão.

A única recomendação técnica que ouso fazer nesta véspera de prova é tão simplória, que os candidatos melhor preparados vão pensar que estou debochando. Peço apenas que tenham cuidado especial com as vírgulas. Isso mesmo, muita gente boa tropeça nas vírgulas. Os experientes, inclusive. Vírgula é um pouco como crase: na dúvida, não use.

A falta da crase, já disse um analista espirituoso, pode ser interpretada como esquecimento. Já a sua colocação indevida só pode ser interpretada como ignorância. Com a vírgula é mais ou menos assim. Uma vírgula desastrada coloca o texto todo sob suspeita.

Por fim, vale lembrar uma lição do poeta Mario Quintana: “Os velhos, quanto mais velhos, mais vírgulas usam”. Não se deduza daí que os jovens podem dispensar as vírgulas quando elas forem necessárias. Há vários casos em que esse sinal de pontuação é obrigatório. Aprendi com o professor Ledur que o entendimento de um princípio é suficiente para resolver mais da metade das dúvidas: não se separa sujeito do predicado, nem verbo e nome de seus complementos.


Portanto, caros candidatos, menos vírgulas, menos riscos.