sábado, 30 de novembro de 2013


01 de dezembro de 2013 | N° 17631
VERISSIMO

Uuuuuuuuu...

— Vovó, você se lembra da sua primeira vez?

— Primeira vez o quê, minha filha?

— Que fez sexo.

— Uuuuuuuu...

— Faz tanto tempo assim?

— Espera que eu ainda não terminei. Uuuuuuuuuu...

— Foi com quem?

— Um cadete. Ele ia ser mandado para o front no dia seguinte e disse que queria levar com ele a lembrança da nossa última noite juntos. Não pude recusar. Dali a duas semanas, recebi a notícia de que ele tinha morrido.

— Que front era esse, vovó?

— O front. Da guerra. Não me lembro qual delas. Fiquei chocada com a notícia e me internei num convento, onde fiquei pelo resto da vida.

— Vovó, você viveu num convento?

— Não vivi? Espera um pouquinho. Acho que estou misturando as coisas. Isso foi um romance que eu li. Ó, cabeça.

— Então, quem foi o primeiro?

— O primeiro o quê?

— Com quem você fez sexo, vovó.

— Uuuuuuuuu... Deixa ver. Como era o nome dele... Gilbert qualquer coisa. Gilbert Roland!

— Acho que esse era um ator.

— Não, não, não. Era nosso vizinho. Nos encontrávamos no fundo do quintal, sob a goiabeira. Até hoje não posso sentir cheiro de goiaba que me lembro do Gilbert Roland. Foi o primeiro e o único. Nunca mais amei ninguém.

— Vovó. Você casou com o vovô. Teve cinco filhos com o vovô. Você amava o vovô.

— Tudo fingimento.

— E há quanto tempo você não faz sexo?

— Uuuuuuuuuuu...

— Com quem foi a última vez?

— Eu já era viúva. Um dia bateram na porta. Era o Juan Carlos da Espanha. Na época ele ainda era príncipe. Tinha errado de porta, estava procurando não sei quem. Mandei entrar e começamos a conversar. Assuntos gerais. Ele pediu para ver o meu quarto... E aconteceu. Nunca mais nos vimos. Mas ele não deixa de me escrever.

— Vovó, você tem cartas do rei Juan Carlos da Espanha?

— Estão por aí, em algum lugar.

— E são cartas amorosas?


— Uuuuuuuuuuuu...