sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017


Jaime Cimenti

Qual a comida de Porto Alegre? 


Esses dias o colunista David Coimbra, no jornal Zero Hora, levantou uma questão interessante: qual a comida de Porto Alegre? e, se não me engano, disse que não seria o nosso tradicional churrasco. Nossa cidade tem origens variadas e, claro, alimentos diversos, vindos com as muitas etnias que nos enriqueceram. Pratos açorianos e espanhóis no início, pratos afros e alemães na sequência e, depois, manjares italianos, franceses, poloneses, japoneses, chineses, tailandeses, coreanos, indianos e até do Nepal. Depois das comemorações do centenário da Revolução Farroupilha, em 1935, a cidade passou a contar com churrascarias. 

Antes os porto-alegrenses curtiam os assados em casa, em família. Hoje, consta que a cidade tem aproximadamente 220 churrascarias e - olhem só - 60 e poucos restaurantes japoneses. A juventude é a grande responsável pelo crescimento dos japas. A cidade já teve grandes fases de bares com comidas alemãs, em avenidas como a Cristovão e a Protásio, passou por tempos de muitas pizzarias e houve fase de comida chinesa em alta, inclusive nos bufês de almoço. 

Cachorros-quentes também sempre foram marca da cidade, sendo o mais histórico o Passaporte para o inferno, vendido pelo trailer do Zé do Passaporte, quase ao lado do HPS. Desde o almoço até o final da noite, o famoso cachorro fez sucesso por décadas e hoje ainda existe no Mercado do Bom Fim. Galeterias sempre existiram em Porto Alegre, junto com o restante da gostosa culinária italiana, trazida pela forte imigração e somente durante um tempo andaram um pouco sumidas. Cantinas italianas seguem com suas cores branca, vermelha e verde. 

Pratos portugueses como o bacalhau e espanhóis como a paella permanecem em nossas mesas, mantendo os vínculos com nossos ancestrais e porque são tesouros gastronômicos universais que a gente não abre mão. Porto Alegre não tem tanta tradição com frutos do mar, mas não fica para trás no quesito. Curiosamente, neste aspecto marítimo, a comida baiana nunca se firmou em nossa capital. Por que será? A comida mexicana foi, voltou, foi e voltou e agora parece ter ficado. Hoje, como em vários locais do mundo, os foodtrucks chegaram, com muitas opções de comidas rápidas, boas e com preços razoáveis. 

Mas a cultura do x-burger, com alguma coisa com x-tudo, segue forte entre nós que, felizmente, não abandonamos o velho, bom e brasileiríssimo bauru. A novidade agora são os hambúrgueres sofisticados, com carnes e molhos incrementados, acompanhados de cervejas artesanais. Enfim, nesse breve papo sobre comidas de Porto Alegre, cidade que não tem um prato-símbolo como barreado (Curitiba), pato ao tucupi (Belém), feijoada ou a famosa Bouillabesse de Marselha ou a salada Niçoise de Nice, dá para constatar que comemos de tudo, somos onívoros, bons garfos democráticos e que respeitamos a diversidade culinária. Até nisso somos plurais, democráticos e globais. Nosso prato preferido é o prato cheio, farto, colorido e, de preferência, adequado ao clima de uma das nossas quatro definidas estações. 

Dá para ser muito feliz na mesa porto-alegrense. 

a propósito... 

Nas últimas décadas, tem sido maravilhoso observar o crescimento quantitativo e qualitativo do mercado de alimentos e as mudanças elogiáveis dos hábitos gastronômicos de nossa capital. Seguimos uma tendência internacional e muitos cursos de culinária e publicações em jornais, livros e revistas mostram o alto interesse dos porto-alegrenses neste tema que é um dos favoritos da população. Agora é ficar de olho na qualidade dos alimentos, na preparação, no visual dos pratos e, claro, procurar não comer demais. 

Nosso prato preferido é o cheio, mas de preferência cheio de saúde e sabor.   - Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/02/colunas/livros/545003-obra-essencial-da-literatura-brasileira.html)