sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017


Jaime Cimenti
Sanduíche aberto 


Sexta-feira passada aqui falei sobre as comidas de Porto Alegre e de outros locais. O atento e gentil leitor Julio Bacchin, que é fotógrafo e pesquisador, informou que o barreado, prato servido em restaurantes de Curitiba, é uma iguaria com origem em Morretes e Antonina, cidades do litoral paranaense. Já o leitor Newton Kalil, conhecido e competente advogado, gastrônomo e "chef" de cozinha com grande atuação, especialmente no União Cooks do Grêmio Náutico União, escreveu para dizer que um prato típico de Porto Alegre é o nosso histórico e apreciado sanduíche aberto, provavelmente com origem nos bares e restaurantes de raízes alemãs. Kalil mencionou os clássicos sanduíches da Caverna do Ratão e do Tartare. 

O do Prinz, com lombinho e molho, segue clássico. O do Chopp Stübel com maionese, lombinho, tomate, pepino e molho de lombinho e o da Caverna com pernil, pão de centeio, tomate, pepino, cenoura, ovo e molho quente há décadas encantam casais, velhos amigos, solitários, e frequentadores assíduos, que não gostam de deixar o sanduíche sozinho e pedem chope, cerveja e outras bebidas para acompanhar. O sanduíche do Tartare leva lombinho, filé tartare, frios e salmão, e também gosta do acompanhamento de um chope ou de uma loira gelada. 

É bom lembrar que o sanduíche aberto é o prato nacional da Dinamarca, país que tem a monarquia mais antiga do mundo, mas que tem como marcas a democracia, a simplicidade e a civilidade. O "morrebrod", o sanduíche aberto dos dinamarqueses, é tão importante como andar de bicicleta, tomar cerveja e conversar em casa ou no bar, na beira da lareira, para espantar o frio e a escuridão de boa parte do ano por lá. O sanduíche dos dinamarqueses tem mais de 100 variações e é cuidadosamente preparado, em termos de ingredientes e apresentação. 

Pães claros e escuros, arenque, salmão defumado, caviar, manteiga, molhos, maioneses, queijos e vegetais variados e o que mais a criatividade permitir são utilizados. Os nativos e os turistas já saem comendo o sanduíche com os olhos e gostam da leveza e da saúde dos sanduíches, que, em muitos casos, é o prato principal. A alegria e a simplicidade dos dinamarqueses têm tudo a ver com o "morrebrod", palavra que na verdade significa pão com manteia ou gordura e que é o bisavô do sanduíche aberto. Em Porto Alegre e no Interior, o sanduíche aberto faz parte das nossas melhores memórias de paladar, envolto em boas lembranças de convívio com a família, os amigos, os amores e até em reuniões de negócios. 

Usamos salame, presunto, queijos, ovo de codorna ou galinha, azeitonas e o que mais for gostoso na preparação dos sandubas. Como disse o Kalil, é um dos pratos tradicionais de Porto Alegre. O sanduíche aberto, por seus ingredientes e modos de fazer, é democrático, internacional e colorido. Tem a cara de Porto Alegre, uma cidade com múltiplas origens, opiniões e dois campeões mundiais. Noto que chamei o sanduíche de Internacional, talvez pelos dois serem eternos e amados. Dona Mimi Moro e o Anonymus Gourmet explicam. a propósito... 

Depois do que escrevi, convido os donos de bares e restaurantes e todos que gostam de sanduíche a buscarem novas receitas, novos ingredientes e novas formas de apresentação do lendário sanduíche aberto, e que desfrutem muito, de preferência com a família, amigos, colegas e com boa bebida. Não esquecendo de que, se você bebe sozinho, ninguém vai carregar seu caixão. 

Num mundo com sons, palavras, imagens, agressões, violências e muita coisa demais e complicada, a simplicidade do sanduíche aberto é uma reserva ecológica do bem e um elo entre gerações e gerações.    - Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/02/colunas/livros/547074-precisamos-de-pontes-nao-de-muros.html)