sábado, 7 de julho de 2018



07 DE JULHO DE 2018
MARTHA MEDEIROS

ZABIKAVA


Zabikava, você sabe, não é nenhum centroavante russo. É o mascote desta Copa, um lobo siberiano que substituiu o Fuleco, aquele tatu-bola meio pé-frio que foi o mascote da Copa de 2014. Mascotes, hoje, não passam disso: bonecos que dão graça e ajudam a divulgar competições esportivas. Antigamente, a palavra mascote designava bichinhos de estimação de verdade, geralmente cachorros e gatos que dormiam no pátio. Lembro que, quando eu estava no colégio, havia o famoso questionário, um caderno com perguntas pessoais: cor preferida, de quem você gosta, quantos irmãos, qual o seu mascote. 

Quando chegava nessa questão, eu engasgava: moradora de apartamento, era a única criança do colégio, e possivelmente do universo, que não tinha mascote. Na tenra infância, meus pais fizeram duas tentativas malsucedidas: autorizaram a presença de um pintinho amarelo que alguém distribuía de graça na rua (e que depois de meia hora foi devolvido com um muito obrigada, adeus), e certa vez meu irmão apareceu em casa com uma tartaruguinha que morreu no dia seguinte, provavelmente por maus-tratos. Veredito: não éramos uma família compatível com o mundo animal e ninguém mais falou no assunto.

As pessoas tiveram mascotes até os anos 1970, anos 1980 no máximo, quando ainda havia o hábito de visitarmos uns aos outros em suas casas, quando as pessoas ainda se encontravam com os parentes regularmente, quando cadeiras eram colocadas nas calçadas para as conversas com os vizinhos, quando as pessoas namoravam e casavam, em vez de ficarem buscando o amor ideal sem se acomodar em nenhum. Tinha-se mascote quando os bichos eram tratados como bichos, criados soltos no quintal, enquanto as pessoas ocupavam-se convivendo com outros seres humanos.

Mas o tempo passou, as cidades cresceram, a violência nos tirou da rua, os lares foram equipados com home theaters, a internet substituiu o encontro presencial e a solidão ganhou um imenso território. A cada ano, mais e mais pessoas moram sozinhas - em locais sem quintal, sem jardim. 

Logo, mascote deixou de ser um animalzinho para brincar depois de fazer os deveres da escola: agora as pessoas têm um labrador que dorme na cama, um collie que almoça na mesa, um basset que é carregado na mochila, um yorkshire que viaja de avião, um vira-lata cujos cuidados consomem parte do orçamento. Os gatos, ainda que mais arredios, foram promovidos também, passaram a ser tão essenciais quanto enfermeiros, cuidadores, namorados. Bicho agora é gente.

Mascote tem quem comprou um Zabikava de pelúcia ou guardou seu Fuleco de plástico. Hoje, temos filhos de quatro patas, parceiros amorosos de quatro patas, melhores amigos de quatro patas - todos ocupando o melhor lugar do sofá.

MARTHA MEDEIROS