terça-feira, 26 de março de 2013



26 de março de 2013 | N° 17383
FABRÍCIO CARPINEJAR

Ótimo

Eduardo está namorando há seis meses e ainda não conhecemos a felizarda.

Ele foge de nossos encontros de terça-feira. Diz que vai levá-la e sempre surge uma desculpa de última hora e aparece sozinho. – Ela tinha aula. Ela tinha treino. Ela tinha inglês.

A Raquel é uma incógnita. Se não existisse o Facebook, imaginaríamos que era uma invenção de sua carência.

No fundo, ele não deseja nos enfrentar. Vem adiando ao máximo a avaliação da presa pela nossa roda. Ainda mais que nossa turma está solteira e não pouparíamos olhares constrangedores.

Não duvido que se case escondido, para evitar o ultraje do inquérito. As mulheres temem apresentar o namorado para a família. Já os homens temem apresentar a namorada para os amigos.

O pânico da rapaziada não é tolerar as chacotas dos irmãos, as provocações do pai, o álbum de fotos resgatado pela mãe. O churrasco de domingo com os parentes não é nenhum martírio ao início de relacionamento. Eles não têm vergonha do nu da infância, dos apelidos fofos, das marolas dos costumes.

Mas odeiam ter que enfrentar a curiosidade dos colegas de bar. Odeiam com todas as forças a estreia da namorada entre os seus iguais.

É mesmo uma cena patética e traumática. A mesa inteira lançará risinhos debochados ao casal recém-formado. As piadas sussurradas lembram códigos entre submarinos ou desenho soletrado de forca.

O par amoroso não achará uma posição reconfortante no espaldar da cadeira: se abraçará, se dará a mão, deitará a cabeça nos ombros em profundo e pesaroso silêncio. Pois é duro apanhar e ser simpático.

É o fim quando um homem vem com a nova namorada para seu tradicional ponto de encontro boêmio. Tenho pena do sujeito porque fui ele. Assim como da acompanhante que descobrirá que ele só tem amigo ogro e boçal e admitirá seriamente a possibilidade de abreviar o romance.

A sabatina do Senado com o candidato a presidente do Banco Central é moleza comparada à roda dos comparsas. Não conheço um outro jogo psicológico tão desonesto.

Ninguém será indiscreto com o passado amoroso do amigo a ponto de prejudicá-lo. É a ameaça de contar que assusta.

Insinuamos histórias para mudar propositalmente de assunto. São manchetes vazias, sem notícias, porém que pegam de jeito o rim do gajo. – Recorda aquele nosso acampamento em São Gabriel? – posso perguntar de repente.

Naquele camping, nosso companheiro de trago ficou com duas jovens em sua barraca. Entende a maldade?Ele gela mais do que o próprio chope, mas a lembrança não prospera e não precisa se explicar.

Conheço gente que não aguenta o tranco, que chora no banheiro, troca de sexo e passa a tomar gim tônica. A acareação também explica o motivo de muitos homens se manterem solteiros até hoje.

O coliseu masculino é feito de inveja e admiração. Implacável, incorruptível, não há como fraudá-lo. O que nós queremos é testar a jovem, ver se ela merece tirar nosso ilustre sócio das delícias noturnas.

Ela será aprovada se não nos xingar após o bombardeiro de picuinhas e bravatas. O que apenas desejamos ouvir de sua boca é:

– Seus amigos são ótimos!