12 de abril de 2016 | N° 18497
+ ECONOMIA | Marta Sfredo
BC AGE PARA FREAR REAL
Foi tão abrupta a queda na cotação do dólar, ontem, que o Banco Central (BC) fez leilões de um tipo de mecanismo destinado a enxugar o excesso de dólares no mercado. O contrato, chamado de swap cambial reverso, não mexe nas reservas, mas troca a rentabilidade do câmbio por ganhos com juro. Faz o efeito contrário do que o BC perseguia há 20 dias, quando retomou esse tipo de oferta, ou seja, segura a valorização do real. Ou tenta, porque logo depois do leilão a queda na cotação diminuiu, mas não se inverteu, e o dólar fechou em R$ 3,49.
Do ponto de vista do curto prazo – outra dimensão está difícil de projetar –, o BC tenta segurar a cotação do dólar para reduzir a oscilação que tanto perturba os incipientes sinais de reação nas vendas ao mercado externo. A recuperação das exportações, ainda modesta, é uma das poucas boas notícias na macroeconomia, acossada por inflação e juro altos. Neste momento, a valorização acentuada do real em relação ao dólar comprometeria a tentativa de retomar o mercado externo.
Para Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora de Câmbio, o BC é responsável pelos “excessos” na volatilidade da cotação exatamente por ter dado liquidez abundante ao mercado com a ampla oferta dos contratos opostos, os swaps cambiais puros, que favorecem a alta do dólar.
– Passada essa fase mais nervosa e mais política, podemos descobrir que a crise econômica é maior ainda. E não dá para imaginar que vai chover dólar no mercado – afirma Nehme, um operador com décadas de experiência no mercado de câmbio.
Na avaliação de Nehme, o movimento de valorização do real é meramente especulativo, porque não encontra amparo na situação estrutural da economia.
– O vento sopra na situação contrária. Quando o terremoto passar, veremos que a situação econômica é mais grave e duradoura do que a política – interpreta.
Evitar oscilação no câmbio, nos próximos dias, pode custar muito esforço ao Banco Central. E exigir muita negociação de quem pretende manter exportações.
APÓS SUSTENTAR ALTA NA MAIOR PARTE DA SESSÃO, O IBOVESPA FECHOU EM QUEDA DE 0,25% NO PREGÃO DE ONTEM. É IMPOSSÍVEL FAZER UMA CONEXÃO DIRETA, MAS É POUCO PROVÁVEL QUE SEJA SÓ COINCIDÊNCIA: A PERDA DE 300 PONTOS ENTRE 16H30MIN E 17H15MIN, OCORREU A PARTIR DO MOMENTO EM QUE VAZOU O ÁUDIO DO VICE-PRESIDENTE, MICHEL TEMER.
ESTOQUES NA PRAÇA
Começou a temporada de oferta de imóveis em Porto Alegre, os feirões das grandes incorporadoras. Ontem, foi aberta a Cyrella Week, que vai até domingo no Iguatemi.
No próximo sábado, será a vez do Melnick Day, data em que a empresa costuma vender grandes volumes – ao menos, em anos anteriores. Presidente do Sinduscon, sindicato das empresas do setor, Ricardo Sessegolo diz que esse é o melhor momento para o comprador e que não vai faltar crédito, já que o financiamento é de bancos privados.
Sessegolo também observa que a boa parte dos imóveis em oferta são resultado de rescisões de contrato, portanto passíveis de boas negociações.
Comparando com o cenário de outras grandes cidades, o preço médio caiu menos em Porto Alegre, o que o presidente do Sinduscon atribui ao baixo estoque de imóveis disponíveis. Na capital gaúcha, o que a média mostra é mais estabilização do que redução de valor. Os feirões são, em tese, a oportunidade para inclinar mais a trajetória dos valores.
TEMPO DE COLHEITA
Depois da confirmação do investimento da Yara, ontem, hoje é dia da Foton reiterar a intenção de implantar uma planta maior do que a prevista originalmente em Guaíba.
Uma comitiva chinesa com diretores da Foton desembarca em Porto Alegre para assegurar a produção de todos os modelos de caminhões da marca, mais utilitários (SUVs) e vans.
A fábrica em Guaíba será a base exportadora para América Latina. A previsão é de investimento total de R$ 250 milhões, com 300 empregos diretos. O atraso é atribuído à demora na escritura da área e na liberação do financiamento pelo BNDES.
BILHÃO NA FRANQUIA
Enquanto as grandes empresas seguram investimentos e demandam menos financiamento, o Santander mira outros nichos. O banco informou que tem R$ 1 bilhão em linhas de crédito para o segmento de franquias, que, na avaliação da instituição, tem apresentado taxas de crescimento “consistentes” nos últimos anos.
A atenção a essas empresas vai além. O Santander criou um núcleo de profissionais especializados que serão responsáveis, entre outras atividades, pelo atendimento a clientes franqueados e franqueadores e pelo treinamento dos gerentes comerciais, para ser conhecido como “banco das franquias”.
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O EFEITO SHOPPING em Canoas está fazendo com que a Auxiliadora Predial anuncie hoje a ampliação das operações na agência Jardim do Lago. A unidade passará a atuar também com condomínios e aluguéis, além da operação já existente de compra e venda de imóveis. A transformação da cidade com a construção de um novo shopping center é a explicação do movimento.
“É FÁCIL CONSERTAR, É SÓ FAZER O CONTRÁIO”
Salim Mattar é protagonista de uma bem sucedida história de empreendedorismo – começou com seis fuscas usados, em 1973, e se tornou principal acionista da maior rede de locação de veículos da América Latina – e um ícone do mercado de capitais. Um dos primeiros empresários de grande visibilidade a criticar abertamente o governo Dilma Rousseff e a cobrar a saída da presidente, o fez do ponto de vista liberal. É como um disseminador do ideário que participa do 29º Fórum da Liberdade.
Em 2014, o senhor dizia que ninguém aguentava mais. Quanto tempo leva a solução da economia?
Descobrimos que nossa capacidade de aguentar uma economia ruim é maior do que a gente pensava. Então, o empresariado – dono da padaria, da banca de jornal, da loja da esquina – está se mostrando resiliente. Mesmo em ambiente de ausência de otimismo em relação ao futuro de curto prazo, faz sua parte.
Todos são resilientes?
No mundo dos negócios, existe o risco. Temos visto um grande número de empresas em recuperação judicial ou fechando. Ocorre quando o empresário não estava preparado para enfrentar uma crise. Enquanto a economia estava bem, foi bem, quando a economia cambaleou, não resistiu. Faltou preparo, know how, ou capital de giro.
E como a crise afetou a locação? O mercado corporativo encolheu?
O negócio da Localiza é muito ligado ao PIB. Devemos ter um impacto, porque as empresas estão passando por momento de não crescimento. Então é natural que caia um pouquinho o volume. Mas estamos tentando compensar com outros segmentos, da pessoa física, de turismo interno, que em função do dólar, cresceu.
Qual o futuro da economia, se houver ou se não houver impeachment?
Na hipótese de não haver impeachment, o Brasil vai bater no muro, porque não haverá governabilidade. A crise econômica vai se transformar em social, com desemprego e inflação. O pessoal deste governo de plantão não entende de economia, de mercado. É difícil dirigirem um negócio de que não entendem e não gostam. Caso haja o impeachment, surge uma luz no fim do túnel. O governo que assumir terá de fazer exatamente o contrário. É fácil consertar o país, é só fazer o contrário do que o governo está fazendo.
