sexta-feira, 22 de abril de 2016


Jaime Cimenti

Bibliomania, bibliófilos

Bibliomania (Ateliê Editorial, 232 páginas, R$ 50,00) traz, em uma simpática e colorida caixinha 12x16cm dois livrinhos costurados, de 116 páginas cada, nos quais os autores Marisa Midori e Lincoln Secco, professores da USP, apresentam pequenos textos com homenagens, impressões, histórias, memórias e ensaios sobre o infinito mundo dos livros.

Quem gosta, ao menos um pouco, de livros, não pode deixar de ler. Os textos foram publicados originalmente para a revista Brasileiros, na coluna Bibliomania, que deu nome às duas obras de Marisa e Lincoln. Escrever sobre livros é tarefa infinita e os temas se multiplicam. 

Dentre as histórias sedutoras a respeito de literatura e autores, já de início, merece destaque a da página 29 do volume de Lincoln, intitulada A crise do livro. O final do texto: "O e-book é uma benção, pois vai diminuir o custo ecológico do livro, salvando árvores que eram consumidas por livros de consumo rápido e frenético. Afinal, na rede (virtual) tudo se faz com rapidez. Na rede (real) tudo se faz com prazer".
Os autores defendem a permanência do livro impresso, ainda que junto com os livros digitais. 

No volume de Marisa, página 51, há um texto interessante sobre livros raros, leilões, falsários e sobre um conto de Gustave Flaubert sobre o tema. Ouro de tolo é o título do artigo, mostrando que nem tudo que reluz é ouro e indicando o livro Bibliófilo aprendiz, clássico de Rubens Borba de Moraes, para quem quer aprender a comprar em livrarias especializadas e adquirir raridades. Rubens explica que o dinheiro não é tudo. As vezes o faro é mais importante.

Falsas dedicatórias, tipos de livros, livros perigosos, Lenin-bibliófilo, Marx-bibliófilo, As armas e os livros, A fogueira de livros, O livro, a feira e a festa e Os inimigos do livro são alguns dos títulos dos textos, que relacionam livros com pessoas, locais, épocas e com outros livros. Como a gente sabe, o mundo do livro é infinito.

Sobre a maldição da letra impressa, está lá, no livro de Marisa, página 45: "A consciência de que a letra impressa tira do autor a autoridade sobre o escrito moveu teóricos e profissionais do livro por longos séculos. Tem significados profundos, até nossos dias. O debate em torno do direito autoral diante das novas tecnologias de difusão do texto, não necessariamente impresso, mas eletrônico, está na ordem do dia. Mario de Andrade escreveu: É natural isso da gente cair num abatimento desiludido cada vez que publica um livro, eu sempre fico desolado quando enfim uma obra minha se converte a essa realidade brutal e castigadora de letra-de-forma."

Sobre manuscritos perdidos, há interessante história envolvendo Celso Furtado e o clássico Formação Econômica do Brasil no livro de Lincoln, página 45. Também há ótimos relatos na página 49 e seguintes.

A propósito...

Pois é, ter um livro nas mãos é tipo estar sozinho e bem-acompanhado, é ter um jardim no bolso. Com o Kindle, leitor eletrônico, então, dá para levar no bolso a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. Livro impresso, e-book, outras formas, não importa. O livro segue como objeto de design insuperável e uma das maiores invenções da humanidade. Permanece como território livre e infinito. Livro é ótimo. Livros sobre livros sempre têm charme, algo a mais. É o caso destes dois, Lincoln e Marisa, que, acima de tudo, passam seu amor de bibliófilos aos outros milhões de bibliófilos.