segunda-feira, 20 de junho de 2016



20 de junho de 2016 | N° 18560 
CÍNTIA MOSCOVICH

A ROTINA DO ARTISTA


Como trabalha quem trabalha exclusivamente com a matéria-prima da imaginação? Como escritores, pintores, matemáticos, músicos, filósofos, cineastas, bailarinos, diretores, atores e poetas organizam o tempo do dia? Buscando pelo menos alguns fatos acerca dos métodos de trabalho do pessoal que cria, o escritor americano Mason Currey dedicou-se a uma pesquisa que resultou n’Os segredos dos grandes artistas (Elsevier, 360 páginas, também em e-book), livro que revela em parte o processo de 161 mentes geniais.

O volume traz curiosidades sobre a rotina de gente como Woody Allen, Van Gogh, Freud, Goethe, Voltaire, Jane Austen, Flaubert, Faulkner, Picasso, Andy Warhol, Pollock, Alice Munro, Oliver Sacks, Saul Bellow, Igor Stravinsky e Arthur Miller, entre outros.

Currey mostra como o ambiente e a própria roupa ajudam a concentração e a manter uma rotina, coisa bem difícil para mentes ligadas e ágeis. As manias são as mais variadas: há os que gostam de escrever em pé, como Hemingway e Thomas Wolfe, que era tão alto que escrevia apoiado sobre o topo da geladeira – e nu, que era para “despertar sua energia masculina”. Friederich Schiller guardava maçãs velhas e usava o cheiro de podre como elemento de inspiração.

Autores também gostam de conforto. Proust e Truman Capote não saíam da cama, ou de sofás fofos, para escrever. A maioria dos pesquisados exige silêncio e sossego, além de consumirem litros de café durante a jornada de trabalho – Balzac chegava a 50 xícaras diárias. Criadores também costumam se exercitar, uma vez que as endorfinas fazem maravilhas pela criatividade e pela capacidade de foco e atenção.

Em comum, todas essas 161 pessoas têm o fato de criar e trabalhar todos os dias, como trabalhariam quaisquer outros mortais. A conclusão é a de que nem a mente mais produtiva prescinde de refazer, revisar, corrigir, duvidar, esforços que transcendem as jornadas de trabalho tradicionais e que exigem do vivente a paciência e a dedicação sem as quais o talento não é rigorosamente nada.