quarta-feira, 29 de junho de 2016


29 de junho de 2016 | N° 18568
ARTIGOS - LUCIANE FERNANDES RODRIGUES*

OS PROFESSORES MUDOS


Cresci vendo meus professores lutando por conquistas que vêm sendo gradativamente retiradas do nosso plano de carreira. Amedrontada, a categoria encolheu. Não sei se esse termo ainda se aplica ao conjunto de professores! Ainda somos categoria, quando cada um defende não os seus direitos, mas sim as suas “razões”? Eu não posso fazer greve, senão eu perco...! Quando o correto seria fazer greve para ninguém perder. Já pensou perder o IPE? Uma categoria defenderia o seu plano de saúde.

Quais seriam as razões dos colegas contratados? Professores que, não sendo concursados, salvo exceções, não se sentem seguros para defender o direito de todos. Estes não terão o que defender quando não houver mais concursos a disputar, quando forem profissionais terceirizados, sem estabilidade, que na condição de contratados também não têm, mas desejam. Pois não defendendo essa condição agora, tentando evitar a aprovação do PL 44, que privatiza a educação, não terão o que defender amanhã.

E os professores com convocação, principalmente os que estão próximos de se aposentar, roucos de tanto gritar em greves anteriores, o que os fez emudecerem? Todos, não, há colegas com TI em greve. No entanto, devo concordar, os seus contracheques são invejáveis! Professores de nível 6 e classe E ou F e que ainda conseguem dobrar isso com uma convocação. Realmente, não é, lutar pra quê? Por quem? Pela categoria? Mas em breve ninguém irá se aposentar nessas condições. As promoções têm se tornado cada vez mais raras. Níveis e classes fazem parte do nosso plano de carreira, as promoções fazem parte do passado.

Tantas são as “razões” que os emudecem! Acrescentem-se a estas os professores com FG, os que estão em estágio probatório, os contratados que aguardam nomeação, os que aguardam aposentadoria, os que só estão fazendo bico, os que acham que não adianta lutar porque o governador garantiu os votos quando deu aumento para os deputados (aliás, nisso eles têm razão).

Eis uma nova categoria: os professores mudos! Essa categoria não faz greve, não corre riscos, não precisa recuperar aos sábados, aliás, só faria greve se não precisasse recuperar, prefere “dar milho aos pombos” e, se os grevistas ganharem alguma coisa... Eu não faço parte dessa categoria! Gosto de falar, de defender os meus direitos, mas, principalmente, gosto de lutar quando esta parece ser a única saída. Eu faço greve!

*Professora de língua portuguesa, especialista em desenvolvimento humano