quinta-feira, 30 de junho de 2016


30 de junho de 2016 | N° 18569 

PAULO GERMANO


Na cidade dos sonhos de Rodrigo Maroni (PR), vereador e pré-candidato a prefeito de Porto Alegre, assassinos de animais usam coleiras eletrônicas no pescoço, todas as famílias são obrigadas a adotar um bicho de estimação, hospitais permitem a entrada de cachorrinhos quando o paciente for terminal, passarelas e túneis são construídos para o bicharedo atravessar a rua, o Samu tem uma versão só com veterinários, e um cemitério público proporciona repouso eterno a gatos e cães.

Uma cidade realmente fofa.

A lista acima é um recorte pequeno da imensa relação de projetos que Maroni tem apresentado nos últimos meses. Boa parte deles é um tanto, digamos, criativa. Como se fosse atribuição de um vereador, por exemplo, propor uma coleira no pescoço de quem “matar ou estuprar” um animal – só o Congresso pode criar penalizações desse tipo. Também fico pensando com que dinheiro a prefeitura compraria as tais ambulâncias para cachorros, todas equipadas com “cirurgião, anestesista, assistente, motorista e educador”. Aliás, seria uma boa se houvesse essa estrutura para atender gente.

Maroni é um personagem curioso, um representante perfeito da política do parece bom – sobre a qual já escrevi um tempo atrás. Trata-se de um fenômeno disseminado por Câmaras e Assembleias de todo o país: são sempre propostas simples, de fácil compreensão para qualquer eleitor, embaladas em um discurso maniqueísta que supostamente protege os mais fracos dos mais fortes.

O mais espetacular projeto do vereador obrigaria todas as famílias de Porto Alegre a adotar um cachorro ou gato. A intenção? “Mitigar o sofrimento dos animais acometidos pelo abandono indiscriminado”. Só que o resultado seria um atentado justamente contra os direitos dos animais: se alguém adotar por obrigação, quem garante que o pobre do bicho será bem tratado? Outra ideia de Maroni era oferecer descontos no IPTU para donos de animais, uma insânia semelhante a ter um filho para ganhar o Bolsa Família. Porque ou se adota por afeto, ou não se adota.

Suplente entre 2012 e 2014, Maroni assumiu uma vaga na Câmara quando João Derly (PC do B) se elegeu deputado federal. Sua última campanha apelava para a figura da noiva naquela época, a então candidata à Assembleia Manuela D’Ávila (PC do B). Dizia o jingle: “Ele é Maroni / Ela é Manuela / Ela está com ele / Ele está com ela”. Nunca sua trajetória política esteve identificada com os direitos dos animais: Maroni militava na esquerda estudantil, deixou o PT para entrar no PSOL, depois foi para o PC do B e, na campanha para vereador, encontrou na causa animal um nicho de atuação – hoje ele está no PR e quer ser prefeito.

Se sua intenção era aparecer, deu certo, eu me rendo. Sou a prova de que Maroni enfim conseguiu.