segunda-feira, 11 de maio de 2015


11 de maio de 2015 | N° 18159
MARCELO CARNEIRO DA CUNHA

“Orphan Black” e os assustadores mundos possíveis

Voltaram a gracinha da Tatiana Maslany e suas dúzias de personagens em Orphan Black, a série canadense da BBC America que bombou com o público e agora começa a ser levada a sério pela crítica. Para ler adiante, fique sabendo que vai haver algum nível de spoiling nos parágrafos seguintes.

Esta coluna tem tecido loas à BBC por suas séries históricas. Mas outra das coisas que a BBC se esbalda em fazer bem é especular sobre as consequências da evolução desenfreada da tecnologia sobre nossas vidinhas. A palavra para descrever esse estado de coisas é distopia, o contrário de utopia.

Em duas séries, Black Mirror e Orphan Black, a BBC capricha na sua visão nada otimista do futuro. Black Mirror vai mais longe, dizendo a todos nós que essa coisa toda de substituir gente por DNA não vai dar certo. Orphan Black é da BBC America e se passa no Canadá.

Por isso, talvez, seja mais pessoal, mais humana, e a sua humanidade é representada pelos muitos clones deliciosos da Tatiana Maslany. Clonagem, se resultar em dúzias de mulheres como Tatiana, pode parecer uma boa coisa. Mas existem outros clones, e nem um deles tão disposto a ser bacana como ela.

Orphan Black, como todas as grandes histórias, se abastece da mitologia grega. O herói incapaz de fugir ao seu destino é clássico, e Tatiana surge como variações desse herói. Sua personagem básica é Sarah, uma jovem um tanto distópica no começo da conversa, que vai se convertendo na nossa heroína involuntária.

As demais são suas irmãs, conhecedoras ou não de sua condição básica. Uma delas, Helena, poderia estar em The Walking Dead na condição de primeiro zumbi vivo da história. Outra, Rachel, pulou o muro e se associou aos opressores. Clones, como os humanos singulares, vêm em todas as formas e conteúdos.


Distopias costumam se apresentar em Estados totalitários, e as melhores já escritas são 1984 e Admirável Mundo Novo, ambas de autores ingleses, olhem a coincidência. Black Mirror e Orphan Black acontecem em Estados democráticos, e o que resta são as corporações como um todo, e a tecnologia como sua arma de controle sobre nós, os tadinhos dos humanos. Vejam as temporadas de Orphan Black – a terceira recém começou – e pensem no assunto. Eu, aqui, já estou pensando.