segunda-feira, 25 de maio de 2015


25 de maio de 2015 | N° 18173
MOISÉS MENDES

Pobres bancos

Perdi parte da tarde de sábado com a leitura de uma reportagem sobre o temor dos bancos com o aumento de 15% para 20% na alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, a tal CSLL. Foi o “social” que tocou ao sistema financeiro no ajuste fiscal.

Li e tive a certeza de que me informava sobre um mundo surreal. O texto dizia que os bancos não sabiam ainda como lidar com a surpresa. Bancos não têm muitas surpresas no Brasil.

Está lá no texto: “Para amenizar essa despesa e manter a rentabilidade em alta, os bancos devem fazer alguns malabarismos em uma engenharia financeira que inclui planejamento tributário, busca por maior eficiência e aumento de tarifas e juros”.

Um economista explica na reportagem que a medida do governo pressiona as ações dos bancos no curto prazo. Os papéis em bolsa de Itaú, Bradesco e Banco do Brasil tiveram queda de mais de 3% em poucos dias.

Fiquei pensando no esforço do planejamento tributário, da margem de manobra para aumentar juros e tarifas, enfim, no vasto drama enfrentado pelas direções dos bancos brasileiros nesse momento difícil para eles.

Outro economista diz na análise que uma alternativa aos bancos seria aumentar a distribuição de juros sobre capital próprio (JCP) aos acionistas. E continuava: esse tipo de provento leva em conta o patrimônio das empresas e a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que foi elevada de 5,5% para 6% ao ano.

Peço desculpas pela reprodução das informações sobre proventos, juros e patrimônios. Mas o país discute o impacto dos cortes no seguro- desemprego, o aumento da tarifa de luz e a poda no orçamento para educação e saúde e eu perco parte do meu fim de semana na leitura de uma notícia sobre o que os bancos precisam fazer para ganhar mais e compensar o aumento do imposto sobre lucros.

É como se as aberrações do sistema financeiro nacional enfrentassem dilemas semelhantes ao meu, ao seu e até ao do trabalhador do salário mínimo. Estamos, finalmente, equiparados ao Bradesco, ao Itaú, ao Santander, ao Banco do Brasil e à Caixa.

O lucro dos cinco maiores bancos somou R$ 60,3 bilhões no passado, 18,5% mais do que em 2013. Nenhum banco no mundo lucra como os nossos, nem se diverte com juros de até 300% ao ano. Mas o que será deles agora, com menos lucros? Pobres bancos. Que ajuste fiscal cruel.