sexta-feira, 22 de maio de 2015


22 de maio de 2015 | N° 18170
MARCOS PIANGERS

O mundo está muito chato

Percebo uma insatisfação generalizada com relação à chatice do mundo. As pessoas reclamam que o mundo está muito chato, que tudo hoje em dia é vigiado, que a vida chegou ao limite do “não pode”.

O mundo era esse lugar legal. Numa época remota, o pessoal andava pelado e comia fruta direto da árvore. Usavam umas tanguinhas e tinham uma dança pro caso de necessidade de chuva. Tudo se curava com umas ervas amassadas. Era um lugar divertido e perigoso, e em algum momento decidimos que precisávamos de conforto.

Era hora de arrumar emprego fixo, com carteira assinada. Era hora de parar de caçar. Inventamos o macarrão instantâneo e todos os nossos problemas estavam solucionados. Nossas ocas agora têm videogames de última geração e televisores 4k.

Eventualmente alguém tenta desafiar a chatice do mundo. Nos anos 70, por exemplo, quando as pessoas usavam drogas e dançavam na lama ao som de Janis Joplin. As mulheres faziam amor com todos os caras disponíveis enquanto artistas colocavam fogo em guitarras. Aquilo era tudo, menos um mundo chato.

Lamentavelmente, aquelas meninas são agora todas mães de família e todos aqueles hippies estão velhos e com algum tipo de lesão cerebral. As tatuagens daquela época parecem borrões, tais quais as memórias.

Não é fácil não ser chato. Aqueles que ficam horrorizados com piadas politicamente incorretas, estes que agora reclamam que o mundo está muito chato. O mundo está muito chato, especialmente por causa das pessoas que dizem que o mundo está muito chato. O mundo é este lugar enorme em que nunca foi tão fácil e barato fazer as coisas de um jeito diferente. Lutar contra a chatice é um exercício do dia a dia.


Em algum lugar deste planeta, as pessoas estão fazendo algo diferente. Quebrando regras. Se você não está, não é o mundo que está muito chato. É você.