sábado, 16 de maio de 2015


16 de maio de 2015 | N° 18164
DE FORA DA ÁREA | Fabrício Carpinejar

O CENTAURONO JARDIM

Colorado, o escritor Fabrício Carpinejar tenta explicar o sucesso da nova estrela colorada e compara o que Valdívia faz em campo com as molecagens de Ronaldinho Gaúcho em início de carreira.

Com sua cabeleira e aparelho nos dentes, Valdívia traz ao futebol profissional o amadorismo da alegria.

É um torcedor no gramado, centauro no jardim do Beira-Rio, meio guri, meio adulto.

Está naquela fase antes da glória, não tem consciência do sucesso, não tem noção de seu valor, não caiu a ficha, ainda se encabula quando reconhecido na rua, tudo vem acontecendo tão rápido – a artilharia no Inter, as arrancadas espetaculares na Libertadores – que não digeriu o peso dos acontecimentos. Não somatizou as manchetes. Deve pensar que não é ele, que é um sonho, que vem jogando a Copa de São Paulo de Futebol Júnior.

Transtornado pela sua crescente importância, não se transformou em celebridade, por isso dribla livremente. Ele não se exibe para olheiros. Não sofre a marcação dos empresários. Ele realiza atuações de gala apenas sonhando em terminar os 90 minutos sem ser substituído. Sua ambição é permanecer em campo e continuar titular. Não foi contaminado pela mosca azul e nem se dobrou aos medalhões de ouro no pescoço com suas iniciais.

Só quer fazer gols, o máximo possível, do jeito que for, de cabeça, canela e ponta da chuteira, não se importa de ombrear com o ídolo D’Alessandro pela cobrança de faltas.

Apesar do estilo diferente, ele me lembra a molecagem de Ronaldinho Gaúcho no início de carreira, quando o craque dava chapéu no Dunga simplesmente porque ele estava na frente, não para se indispor com o capitão do tetra.


Valdívia não sabe o que faz, é absurdamente inconsequente e passional, não alcança a felicidade que gera na torcida, que continue assim desconhecendo sua grandeza por longo tempo, amando mais o time do que o seu passe.