sábado, 11 de fevereiro de 2023


09/02/2023
Jaime Cimenti
Assassinatos na ilha paradisíaca
O retiro (Editora Intrínseca, 400 páginas, R$ 69,90 livro impresso, R$ 46,90 versão e-book, tradução de André Czarnobai) é o novo romance da premiada escritora inglesa Sarah Pearse, autora do bestseller O Sanatório (Editora Intrínseca, 2022), que mergulhou na estonteante e ilusoriamente calma paisagem dos Alpes Suiços. O Sanatório foi apontado como um dos melhores títulos da literatura de mistério da atualidade e, sem exagero, a autora foi comparada a Agatha Christie, Stephen King e Alfred Hitchcock e ingressou no rol dos grandes autores da atualidade.
Neste O retiro Sarah Pearse traz como pano de fundo um idílico retiro de bem-estar inaugurado em uma ilha, que promete descanso e relaxamento para seus visitantes. Entretanto, lá nada é realmente o que parece. Poucos sabem que a ilha, conhecida localmente como Pedra da Morte, tem um passado altamente sombrio: foi palco de uma série de assassinatos alguns anos antes.
Um grupo de hóspedes busca refúgio e distância dos problemas nos cenários encantadores e, entre eles, duas irmãs e uma prima, que parecem alimentar ressentimentos do passado. Logo uma série de acontecimentos macabros tem início. Uma mulher é encontrada morta debaixo do pavilhão das aulas de ioga. Outro hóspede se afoga durante um mergulho. A detetive Elin, que já foi personagem do romance anterior de Sarah, percebe que as mortes não foram acidentais. Com sua intuição aguçada, ela percebe que a maioria dos hóspedes veio em busca de calma, mas que alguém está ali por vingança.
Com linguagem envolvente e ágil, com enredo cheiro de reviravoltas, em capítulos curtos e mostrando habilidade narrativa incomum, neste segundo livro a escritora faz uma releitura do modelo de Agatha Christie, dá uma referência gótica à ilha, mescla thriller psicológico com mistério, apresenta cavernas, boatos sobre uma maldição e mostra porque é considerada um dos grandes nomes da literatura de mistério da atualidade. 

Lançamentos

20 Poemas Para Novembro (ASERGHC, 90 páginas), do Conselho Raça, Gênero e Diversidade da ASERGHC, com organização de Gabrielle de Paula e Nathalia Bittencurt, e apresentação de José Antônio Souza da Silva, apresenta dezenas de poemas de quinze autores sobre escravidão, negritude e vozes erguidas em favor da liberdade.
Empreender sem Desculpas (Editora DVS, R$ 79,00), da consagrada jornalista, gestora e consultora portuguesa Ana Cristina Rosa, conta, em tom bem humorado e pessoal, como ela se tornou empreendedora global, trazendo conhecimento e exaltando o potencial do país na geração de novos negócios.
Soterrados (Ardotempo, 64 páginas, R$ 60,00), do consagrado poeta e compositor Martim César, natural de Jaguarão, traz longos e belos poemas, com ilustrações de Alfredo Aquino. Os versos tratam de lutas sociais, terra, pão, liberdade e sonhos por uma vida mais digna, evocando o grande Pablo Neruda.
Os muitos tons das ideologias
Especialmente nos últimos 100 anos, questões e definições envolvendo as nossas principais ideologias, especialmente as de natureza política, se tornaram mais e mais complexas - e a globalização e os meios de informação cada vez mais poderosos e tecnológicos, igualmente, são responsáveis pelos muitos tons das ideologias, no tempo e no espaço. Conceitos sobre esquerda e direita, por exemplo, hoje são muitos e de várias cores e é preciso ter uma visão ampla sobre eles.
Ideologias (Companhia das Letras, 246 páginas), da advogada e comunicadora paulista Gabriela Prioli, mestre em direito penal pela USP, doutoranda da FADISP e autora do livro Política é para todos (Companhia das Letras, 2021), apresenta as três principais ideologias - liberalismo, conservadorismo e socialismo - que nos ajudam a pensar a política e a sociedade da atualidade.
O volume é apresentado pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, que escreveu: "A vida comporta muitos pontos de observação por lentes diferentes. Nesses tempos de intolerância e de donos da verdade, este livro traz luz, suavidade e conhecimento para um mundo que vive momentos de escuridão, aspereza e exaltação da ignorância. Há esperança. Ao expor sem maniqueísmo aquelas que são, no seu ponto de vista, as três principais vertentes ideológicas contemporâneas, a autora deixa implícito um ensinamento de grande maturidade: quem pensa diferente de mim não é meu inimigo, mas meu parceiro na construção de uma sociedade aberta, plural e democrática. Conviver com o diferente, respeitá-lo e aprender com ele é uma vitória do espírito."
A primeira parte da obra trata do liberalismo, com introdução, protoliberalismo e as três revoluções, os seis tipos de liberdade e, ao final, uma lista de autores.
A segunda parte do volume enfoca o conservadorismo e trata do nascimento do conservadorismo, da lógica do cubo mágico, de seus alicerces e da diferença entre distributistas e reacionários. Ao final, lista de autores sobre o tema.
A terceira e última parte trata de socialismo, com introdução, as origens do socialismo, utopia, a Revolução Francesa e a igualdade, os socialistas utópicos, Marx, Engels e o comunismo, as muitas esquerdas na esquerda e, ao final, lista de autores.
Nas páginas anteriores às referências bibliográficas e ao índice remissivo, Gabriela Prioli oferece uma clara e concisa conclusão, que merece ser reproduzida por aqui.
"Temos muitos problemas antigos cujos contornos se alteram constantemente, numa velocidade cada vez mais rápida. E temos, na mesma velocidade acelerada pela Revolução Tecnológica, novos problemas", escreve Gabriela Prioli. "Num mundo complexo, não existem respostas fáceis. A simplificação conforta porque ilude. Você prefere o conforto das ilusões que o carregam para o abismo ou a dureza da realidade que lhe permite, ainda que com alguma dificuldade, o desvio?"
A propósito...
Com sua linguagem acessível, Gabriela, hoje uma de nossas maiores e mais relevantes criadoras de conteúdo, muito mais do que meramente apresentar um grande panorama de ideias, nos convida a refletir e a dialogar respeitosamente com aqueles que têm opiniões divergentes. Disso precisamos, numa "aldeia global" tão dividida, multifacetada e, infelizmente, tantas vezes violenta. Antes de tudo é preciso acreditar que é possível pessoas e mundo melhores; depois é tratar da construção coletiva.

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