segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023


27 DE FEVEREIRO DE 2023
DÍVIDAS

Inadimplência volta a subir na Capital na largada de 2023

Porto Alegre registra o maior percentual de famílias com contas em atraso em um mês de janeiro nos últimos cinco anos

Após sequência de meses em retração, a inadimplência voltou a aumentar em Porto Alegre na largada de 2023. O percentual de famílias com contas em atraso na Capital ficou em 36,4% em janeiro. Esse montante é ligeiramente maior do que o observado em dezembro (36,1%), mas está em patamar mais robusto ante igual mês do ano passado (29%).

A fatia de lares inadimplentes é a maior para um mês de janeiro nos últimos cinco anos e a segunda mais elevada na série histórica, com início em 2010, nesse recorte. Os dados são de pesquisa da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado (Fecomércio- RS) com base em números da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. Inflação persistente, juro alto, dificuldade em recompor perdas salariais e período com maior número de contas a pagar ajudam a explicar esse cenário, segundo especialistas. Dificuldade em honrar dívidas reduz acesso ao crédito e o consumo de alguns bens, o que prejufica o aquecimento da atividade econômica.

O levantamento consulta apenas famílias que moram em Porto Alegre, mas é analisado como retrato de todo o Estado. A economista- chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo, afirma que a conjuntura econômica do país, com inflação alta, principalmente no grupo de alimentos e bebidas, e juros elevados, ajuda a explicar o aumento da inadimplência. Nesse ambiente de aperto, também existe o encarecimento de dívidas tomadas no passado, segundo a economista:

- Tem pessoas com dívidas rodando com taxas de juros que se elevaram ao longo do tempo. Isso faz com que essas pendências comecem a pesar mais no orçamento e isso leva a uma situação de inadimplência.

Já o percentual de famílias que não terão condições de pagar nenhuma parte das dívidas atrasadas em prazo de 30 dias segue em patamar baixo (2,1%) e chega a 5,7% entre as que têm dívida. Patrícia avalia que esse movimento mostra que não existe cenário de inadimplência fora de controle:

- Entre consumir hoje e pagar uma dívida, o consumidor opta por financiar o consumo corrente. Entretanto, os dados mostram que existe empenho em evitar que a inadimplência se torne crônica porque isso impacta na capacidade de tomar crédito.

Professor da UFRGS, Maurício Weiss afirma que aspectos sazonais também influenciam o repique observado em janeiro. A necessidade de pagar algumas contas características dessa época do ano, como IPVA e IPTU, eleva os compromissos das famílias e aperta o orçamento. Em relação à persistência do indicador em nível alto, além de inflação e juro elevados, o professor cita a renda, com falta de recomposição salarial em algumas categorias e mercado de trabalho com avanço insuficiente:

- A economia tem desacelerado. A dinâmica do mercado de trabalho, embora a taxa de desemprego tenha diminuído, mostra empregos de menor qualidade e maior informalidade. A renda do país não tem recuperação interessante.

Contração

Professor da Escola de Gestão e Negócios e coordenador do doutorado e do mestrado da Unisinos, Magnus dos Reis afirma que o nível elevado de inadimplência é mais um componente que influencia na desaceleração da atividade econômica. Isso porque, o freio no consumo ocorre em contexto de incertezas em relação às políticas do novo governo na área fiscal:

- O cenário com inadimplência maior e queda de consumo, aliados a uma redução de investimentos em alguns setores diante de incertezas, acaba contraindo o que a gente chama de demanda agregada, a renda nacional.

Já o percentual de famílias endividadas em Porto Alegre caiu de 91,9%, em janeiro do ano passado, para 90,6% no primeiro mês deste ano. Esse indicador também considera as dívidas que estão sendo quitadas. Cartão de crédito, carnês e financiamento de carro seguem liderando entre essas contas.

ANDERSON AIRES

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