sábado, 11 de fevereiro de 2023


11 DE FEVEREIRO DE 2023
+ ECONOMIA

ESG na prática

A Lojas Pompéia criou sua primeira marca com viés sustentável, a Eco.ar. Um tênis desenvolvido em parceria com o Instituto Lins Ferrão será o primeiro produto da linha.

Foi feito a partir da reutilização de uniformes que seriam descartados. Cerca de 300 quilos de peças acumulados durante três anos passaram por desfibramento. Assim, voltaram a ser fio têxtil, usado para a confecção do cabedal (parte de cima), palmilha e forro do tênis. A Pompéia é uma das empresas do Grupo Lins Ferrão. O instituto foi projetado para desenvolver ações de responsabilidade social e sustentáveis.

ENTREVISTA SERGIO WERLANG Ex-diretor do Banco Central

Ao contrário da autonomia do Banco Central, considerada essencial por quase todo setor produtivo e todos os economistas ortodoxos, a crítica à meta de inflação de 3% encontra eco em vozes do mercado - em tese, até em seu presidente, Roberto Campos Neto. Responsável por implantar o sistema de metas no Brasil em 1999, como diretor do BC, Sergio Werlang está entre os que consideram 3% ao ano "muito apertada" para a realidade nacional. Nesta entrevista, explica os motivos e detalha o que deveria preceder um eventual aumento.

Por que a meta é apertada?

Em 1999, na primeira vez em que se discutiu meta no Brasil - sei porque estava lá (risos) - pensava- se em um número baixo. Eu e Armínio (Fraga, presidente do BC à época) tínhamos essa preocupação e procuramos o professor Aloisio Araujo (doutor em estatística, professor titular da Escola Brasileira de Economia e Finanças). Ele nos disse que países com fragilidade fiscal costumam ter inflação acima de outros. Em 2015, Araujo publicou um artigo na International Economic Review reforçando essa tese.

É o caso do Brasil?

Exatamente. Temos rigidez enorme no orçamento, e o país não pode ter déficit muito grande. Por isso, para ser crível, meta tem de ser um pouco acima de países parecidos, mas sem essa rigidez.

Que países seriam?

A meta do Brasil tem de ser um pouco acima da de países como Chile e México, que usam 3%. Mas não muito maior, entre 4% e 4,5%. Em 31 janeiro de 2017 - lembro porque fiquei apavorado por saber do perigo de descrédito do sistemas de metas -, ouvi o presidente do BC (à época, Ilan Goldfajn) dizer que 3% no longo prazo seria o ideal para o Brasil. Escrevi um artigo contestando, citei o trabalho do Aloisio. De lá para cá, escrevi 11 artigos. Não adiantou. O Brasil precisa ter meta de inflação mais alta, com Temer, Bolsonaro ou Lula.

O aumento tem pré-requisito?

Estamos com a área fiscal em completo desarranjo. Quando isso ocorre, se não arrumar, a inflação sobe, como vimos no final do governo Bolsonaro. Aí, o único jeito de equilibrar é cobrando o chamado imposto inflacionário. O que é fundamental para aumentar a meta e ter certeza de que vai aumentar a credibilidade do BC - não diminuí-la -, é equacionar a situação fiscal de forma crível. O ministro Haddad tem dito que até abril apresenta. Se for crível, começa a cair a taxa de juro dos títulos de longo prazo. Os NTN-B 2050 (títulos de dívida do Brasil) hoje estão em 6,43%. Se começar a cair na direção de 5% - onde estava, no governo Bolsonaro, mesmo com toda a confusão -, vai sinalizar que as pessoas acreditam que a regra poderá ser cumprida.

Então, a meta só deveria subir depois do marco fiscal?

Exatamente. A meta para inflação tem sido anunciada sempre em junho. Teria tempo de sobra para trocar ideias com pares, acadêmicos, mercado, e verificar se a regra fiscal foi ou não crível. Não há necessidade de correr com isso. É importante fazer, mas fazer direito, para ter certeza de que o BC vai ganhar credibilidade, não perder. Aí pode ajustar para nível mais próximo do que o Brasil realmente consegue atingir sem tanto custo. Para atingir 3%, teria de manter o juro muito tempo em 13,75%.

Tem expectativa de trégua entre governo Lula e BC?

Espero que sim, porque toda vez que o presidente ataca o BC, o juro de longo prazo sobe. Se acompanhasse na tela, teria uma ideia melhor de que só piora as condições da política monetária para o futuro. Além de ser muito difícil aprovar o fim da autonomia, teria um efeito bastante ruim, de mais inflação. Não vejo lógica em continuar com essa batida.

MARTA SFREDO

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