O que é uma empresa de benefício público, formato das que desenvolvem IA, que deve ser adotado pela OpenAI?
É semelhante a uma empresa B. A diferença é de que as empresas B precisam se certificar para serem consideradas assim. A OpenAI foi criada como empresa sem fins lucrativos e agora está se constituindo como de benefício público. E está colocando nos estatutos que o benefício é para a humanidade.
O que significa exatamente?
Ninguém sabe. O que a Open- AI e outras companhias parecem querer dizer é que essa tecnologia é tão importante para o mundo que precisam de estrutura que permita fazer isso.
Qual é a vantagem?
Pode ter a ver com accountability (prestação de contas). Se for processada, pode argumentar que não existe apenas para maximizar o lucro dos acionistas, mas também para maximizar o ganho para a humanidade. Ninguém sabe o que significa. Mas a empresa consegue se defender de processos judiciais dizendo que age no interesse de todos. O fato de a OpenAI não ter fins lucrativos era muito estranho.
Quais companhias já são de benefício público nos EUA?
Existem 15 empresas de capital aberto nessa categoria. Uma é a Avon, que é da Natura. Estranho é as startups tecnológicas de topo ocuparem esse espaço. É uma tendência. Ninguém sabe se há uma visão nefasta ou de duplo sentido. Podem ter boa intenção. Mas ainda precisamos ver.
E qual é a prestação de contas desse tipo de negócio?
Nos Estados Unidos, existe grande pressão por parte de acionistas e dos advogados dos requerentes, algo que não existe no Chile, na Argentina e no Brasil, por exemplo. Companhias com capital aberto como Tesla, Google e Microsoft costumam enfrentar muitas demandas judiciais. Quando a empresa é de benefício público, é fechada, fica menos exposta a isso.
Seria uma posição defensiva?
Estamos em um novo território. Precisamos entender qual é o objetivo. O que dizem é que a tecnologia pode mudar o mundo. E isso seria tão importante que não poderia privilegiar só acionistas. Há duas visões: uma é a intenção dos investidores de maximizar o lucro, outra é pessoas que querem segurança. Por isso, outras empresas de inteligência artificial, como a Anthropic, também são de benefício público. Isso permite prestar menos contas a investidores.
Não agrega falta de transparência a um tema já opaco?
Sam Altman (fundador da OpenAI) foi demitido (recontratado por pressão de investidores como a Microsoft) por falta de transparência. A OpenAI diz que está criando um fundo de benefícios a longo prazo, que vai nomear um conselho para privilegiar a humanidade. Não sabemos se é verdade. Temos de cuidar para não maximizar o interesse de poucos. Talvez não seja uma má estrutura, mas na OpenAI, não funciona.
Adianta regular?
Para privilegiar a segurança, é preciso ter regras globais. Mas é difícil de concretizar. Há uma corrida entre EUA e China em que a Europa pesa pouco. A Califórnia tentou, mas não conseguiu, houve lobby das big techs. Elon Musk sempre falou sobre regulação, por acreditar que a inteligência artificial é perigosa. Agora, ele tem a xAI. Tudo é muito geopolítico, porque, se o que dizem for verdade, se a IA pode mudar tudo, quem vencer será mais poderoso do que todos os demais. É por isso que a governança é tão importante. É perigoso que Sam Altman tome decisões para o resto do mundo.
Sam Altman assinou manifesto por regulação, não?
Sim, mas, ao assinar, a empresa se consolida e consegue matar outras que vêm atrás. Quem pode ser regulado tem recursos para seguir regras muito onerosas para outros. Sam Altman é provavelmente o mais astuto captador de recursos. Mostrou que tem a capacidade de sobreviver e fazer US$ 157 bilhões. Mas tem muitos esqueletos no guarda-roupa, não só com a OpenAI. Se o conselho decidiu tirá-lo, por algo foi.
Mesmo assim, quase todas as empresas apostam em inteligência artificial. É um risco?
É parecido com outras ondas de tecnologia. As diferenças são essa nova estrutura, de empresa de benefício público, e a valorização. Há 10 anos, era impossível um hectocorn (startup com valor acima de US$ 100 bilhões). E também que isso tudo ocorresse fora do mercado aberto. Não sabemos o que empresas multibilionárias com presença em todo o mundo fazem. _
Respostas capitais - Evan Epstein
Diretor-executivo e professor adjunto do Hastings College of the Law da Universidade da Califórnia, com 15 anos de experiência no Vale do Silício
"Se a IA pode mudar tudo, quem vencer será mais poderoso do que todos os demais"
Evan Epstein dirigiu um centro de governança corporativa ligado à Stanford Law School e, em 2017, fundou a consultoria Pacifica Global. Mesmo com esse currículo, não vacila em usar a expressão "ninguém sabe" sobre gestão das empresas de inteligência artificial. Nesta entrevista, explica os motivos.
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