O episódio em curso na Grande São Paulo, de dificuldade da concessionária de restabelecer a energia em um prazo aceitável após um temporal intenso, se assemelha com o que aconteceu no Rio Grande do Sul em janeiro. Uma das principais diferenças é a reverberação. O caso paulista, na maior e mais rica região metropolitana do país, ecoa nacionalmente e gera reações iradas inclusive de altas autoridades federais, com ameaças até à concessão da italiana Enel.
Com a perspectiva de eventos climáticos extremos mais recorrentes e potentes, são crises que se repetirão. O aconselhável seria aproveitar a grande repercussão do apagão em São Paulo para deflagrar uma discussão ampla e séria sobre medidas que as concessionárias, o setor de distribuição como um todo, as agências reguladoras e o poder público poderiam implantar visando a uma melhor preparação para as futuras intempéries. Tanto na prevenção como na resposta. A politização excessiva, no caso de São Paulo, por enquanto atrapalha um debate mais racional.
Não há dúvida de que a Enel, que sequer cumpriu o seu plano de contingência, estava despreparada para atender às demandas geradas pelo temporal. Mais de 2,1 milhões de clientes ficaram às escuras, com todos os transtornos e prejuízos que isso causa aos cidadãos e à economia. Assim como a CEEE Equatorial, no caso do Estado, exasperou consumidores e autoridades em janeiro pela lentidão em religar a energia e pela falta de informações básicas aos clientes. Ambas repetiram o mau desempenho de tempestades anteriores.
As concessionárias de energia, prestadoras de um serviço público essencial, têm de ser cobradas para se adaptarem à nova realidade. Para isso, é necessário que as agências reguladoras sejam fortalecidas e possam atuar de forma independente, fiscalizando de forma adequada as companhias e punindo rigorosamente, quando necessário, conforme a legislação em vigor. Ao poder público local cabe fazer o que lhe compete, como uma gestão adequada das árvores urbanas, com podas preventivas, preservando o verde e ao mesmo tempo minimizando o risco do choque de galhos com a rede aérea.
Permanecer dias a fio no breu e sem perspectiva segura de retorno da energia é motivo de justificada irritação. Ainda mais quando a prestadora do serviço se mostra incapaz de um atendimento minimamente adequado. De outro lado, deve-se ponderar que manter sempre a postos equipes em número suficiente para consertar estragos de grandes proporções devido a temporais violentos pode ser financeiramente inviável.
Uma alternativa seria institucionalizar a cooperação entre as empresas do setor, para que possam se socorrer mutuamente com rapidez em caso de tempestades. Permitiria mais agilidade no religamento da luz. Em janeiro, com atraso, a CEEE Equatorial chamou técnicos de outros Estados. Agora, em São Paulo, a Enel passou a ter o auxílio de outras distribuidoras. Assim como em maio o Rio Grande do Sul recebeu a ajuda de todo o país para atuar em resgates na enchente e, nas últimas semanas, corporações deslocaram aeronaves e recursos humanos para as regiões que sofriam com queimadas. A violência dos eventos extremos vai requerer cada vez mais coordenação e colaboração.
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