segunda-feira, 21 de outubro de 2024



21 de Outubro de 2024
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Respostas capitais

Paula Harraca - CEO da Ânima Educação, companhia de capital aberto que comprou duas instituições de ensino superior do RS em 2021, a UniRitter e a Fadergs

"Competição tóxica vem de ideia de que um tem de perder para o outro ganhar"

No cargo desde julho, Paula Harraca é a primeira mulher no comando da Ânima. Também é a primeira CEO que não pertencia ao grupo dos fundadores da companhia que controla 18 instituições de Ensino Superior. Nascida em Rosário, na Argentina, onde começou a carreira como trainee da siderúrgica ArcelorMittal, mudou-se para o Brasil há 13 anos, depois de passar por Espanha, Luxemburgo, Canadá e Trinidad e Tobago.

Sua carreira começou na Argentina, como única mulher na área. Depois, esteve em cargos ainda não ocupados por mulheres. É uma trajetória de pioneirismo?

Respondendo de maneira bem assertiva, sim (risos). É algo que ocorreu naturalmente, não busquei. Quando olho para trás, percebo. Comecei a ver que era a única mulher em um conselho, a única em uma diretoria, e veio a responsabilidade de garantir que, mesmo que tenha sido a primeira, não seja a última. Por onde passei, sempre ficaram mais mulheres. É querer se desafiar a melhorar e fazer a realidade mais plural.

Por que você mudou da ArcelorMittal para a Ânima, do aço para a educação?

A mudança sempre tem uma escolha e uma renúncia. Com 20 anos de ArcelorMittal, ao redor dos 40 anos de idade, comecei a refletir sobre a segunda metade da vida e da carreira. Até comecei a fazer terapia. Estava em uma empresa de que gostava, conhecia o dono, tinha salário milionário. A vida estava resolvida, mas precisava descobrir minha missão. Não buscava um cargo, mas um propósito, assumir protagonismo e criar um futuro melhor. Sou filha de professora universitária, e se estou aqui hoje, é porque a única e melhor herança que tive foi a educação. Não tinha clareza de que iria para esse setor, mas quando surgiu a proposta, fez muito sentido.

É também a primeira mulher no cargo, certo?

É a primeira vez que estou CEO. Também sou a primeira não-sócia que assume a liderança executiva da Ânima e faço parte do restrito grupo de menos de 5% de mulheres com responsabilidade de liderar uma empresa de capital aberto no Brasil.

Em fase de reavaliação do ESG, como alinhar propósito, lucro e impacto, uma das abordagens do seu livro?

O que ocorre são etapas comuns de todo processo de mudança. Só que estamos em um mundo de crises. Temos 17 desafios estabelecidos em 2015 pela ONU como ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável). O grande desafio é trazer para o centro dos negócios, não como acessório. Passa pela criação de negócios mais conscientes e comprometidos com a efetiva geração de impacto positivo na atividade principal.

O que é competitividade tóxica, que aborda no livro?

Competição tóxica e consumismo vêm de ideia de escassez, de um jogo finito em que um tem de perder para o outro ganhar. É desse lugar tóxico que precisamos sair. Se as demais empresas de educação estão fazendo um ótimo trabalho, que bom. Estão contribuindo para o propósito da Ânima, que não vai conseguir fazer tudo sozinha. Por isso, trago o conceito de competitividade consciente, de ser melhor para, não "do que".

E como mudar?

Tudo depende do que medimos e dos incentivos. O mundo ainda comemora o sucesso, condena o fracasso e o erro e não valoriza a aprendizagem. O único e principal concorrente que temos, individual ou coletivamente, é quem fomos ontem. Quando nos propomos a criar um futuro melhor, é preciso outro tipo de mentalidade, a da abundância. Não tem fórmula mágica, tem consistência, trabalho em equipe, integridade e compromisso de aprender com os erros.

A Ânima tem planos de expansão no RS?

Estamos a pleno vapor com o planejamento estratégico que envolve as unidades do Brasil inteiro. É trazer poder às pontas, que vão identificar estratégias, oportunidades e desafios. E também olhar o ecossistema.Temos marcas muito fortes no RS. E estamos olhando para o Estado como a potência que é.

Há aporte previsto?

O que há de concreto é dar força e autonomia às marcas. A Ânima conseguiu integrar seus sistemas e tem condição de dar mais força às universidades.

Há possibilidade de venda de unidades gaúchas?

No RS, não. Olhar para o portfólio de marcas é um exercício, mas temos convicção de que nossas escolas no Estado são fortes e têm tradição. Os alunos escolhem UniRitter, não Ânima.

Há planos de vender alguma unidade fora do RS?

Não existe plano efetivo. Mas é preciso estudar. Nossa agenda é de crescimento sustentável. Estamos fazendo um trabalho consistente de reduzir a alavancagem (endividamento). Hoje, a Ânima não é obrigada a vender nenhuma escola (para quitar compromissos). _

GPS DA ECONOMIA 

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