sábado, 13 de maio de 2023


13 DE MAIO DE 2023
SAÚDE PÚBLICA

DAS MÃOS LAVADAS À ANTISSEPSIA CIRÚRGICA

15 DE MAIO É O DIA NACIONAL DO CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES

Nos hospitais do século 19, mulheres morriam aos montes após o parto em decorrência de infecções. Quem dava à luz em casa ou mesmo nas ruas tinha chances de sobrevivência melhores do que em uma internação hospitalar. Na época, os pacientes eram aglomerados doentes em camas coletivas e sem distanciamento, além de serem atendidos por médicos que não limpavam suas ferramentas ou lavavam suas mãos.

Isso mudou em 1847, quando ainda se defendia a teoria da geração espontânea (que dizia que pequenos animais como insetos e larvas surgiam por geração espontânea), um legado dos antigos gregos. Na época, o médico obstetra húngaro Ignaz Semmelweis decidiu incorporar uma atitude simples - a lavagem das mãos - no dia a dia do hospital em que trabalhava em Viena, na Áustria, antes mesmo da teoria microbiana dos germes se tornar consenso entre cientistas.

- Esse médico viu que, onde as puérperas estavam sendo cuidadas por parteiras que higienizavam as mãos e usavam água quente, havia menos infecção do que as cuidadas pelos médicos porque eles às vezes saíam de salas de necropsia, manipulavam corpos e iam direto fazer os partos - explica a médica infectologista Caroline Deutschendorf, coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).

Com isso, a mortalidade nos partos decaiu drasticamente, e a data da medida implementada por Semmelweis foi instituída como o Dia Nacional do Controle das Infecções Hospitalares. Hoje, mais de 175 anos depois, lavar as mãos continua a ser uma das principais medidas de prevenção para todos os que passam por unidades de saúde - médicos, enfermeiros, pacientes ou visitantes.

u Foco especial em pacientes com cateteres, sondas e pós-operatórios

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), só a higiene das mãos e dos ambientes em unidades médicas está associada à redução de complicações de saúde em cerca de 40%, além de reduzir o risco de morte pela metade. Segundo o órgão, a medida é uma das intervenções com o melhor custo-benefício na saúde, por ser barata e eficaz.

Caroline explica que toda pessoa que interna em um hospital está sob risco de contrair uma infecção, sobretudo aqueles que recebem cateteres, sondas ou fazem cirurgias. Ou seja: incisões e cortes que deixam o interior do corpo, de algum modo, exposto. Por isso, os ambientes hospitalares - dos quartos e corredores às unidades de terapia intensiva e salas de cirurgia - passam por higienizações constantes.

- Focamos muito nesses pacientes em especial porque sabemos que eles têm mais risco e nossa principal medida, carro-chefe, até hoje, é a higiene das mãos - explica Caroline.

Fora a medida já consagrada, em quartos hospitalares, por exemplos, há outras como o distanciamento entre leitos para deixar a convivência segura e o isolamento dos pacientes que estiverem infectados com micro-organismos ou bactérias resistentes, explica a enfermeira Ariane Monteiro, coordenadora de Enfermagem do Serviço de Controle de Infecção do Hospital São Lucas (HSL).

Já em unidades de tratamento intensivo (UTI), para onde vão muitos dos pacientes em situação mais delicada, a adesão à higiene das mãos é monitorada junto com o uso de dispositivos, como respiradores e acessos endovenosos.

- Temos três linhas de prevenção muito fortes: à infecção de corrente sanguínea, de trato urinário e de pneumonia associada à ventilação mecânica. Cada uma delas tem itens de rotina que o controle de infecção avalia, como uma espécie de auditoria - diz a enfermeira.

u Salas de cirurgia requerem ainda mais rigor nos cuidados

Em locais como salas de cirurgia, os cuidados são ainda mais rigorosos. Há controle até no fluxo do ar condicionado para evitar que partículas caiam no paciente, afirma Caroline, do Hospital de Clínicas. À exceção de partos, os visitantes não são permitidos e, em muitos casos, os pacientes tomam antibióticos para prevenir infecções bacterianas.

- Todos usam barreiras máximas de proteção: avental, gorro, máscara e luva para evitar transmissão de infecção - explica a médica do HCPA, que diz que luva e avental são esterilizados e trocados em todo procedimento para garantir que não haja transmissão de bactérias, por exemplo.

Ariane também ressalta que, no pré-operatório, tanto pacientes como a equipe assistencial passam por antissepsias cirúrgicas, como banhos com uma solução de clorexidina, um antibactericida e antifúngico. Há todo um cuidado no preparo da pele do paciente na escovação das mãos dos profissionais de saúde, explica a enfermeira. A mesma estratégia de fluxos de ar especiais das salas cirúrgicas também é usada em outras alas sensíveis de hospitais, como as que atendem pacientes com imunidade suprimida ou nas UTIs.

Visitantes também devem contribuir na prevenção

Além de pacientes, hospitais também recebem o fluxo de visitantes e consultas ambulatoriais. De modo geral, no caso de visitas, o ideal é evitar que haja muita gente circulando, apesar do volume ficar mais intenso, sobretudo em caso de pacientes mais graves, com família e amigos preocupados.

- Reforçamos a importância da higiene de mãos e que, se o visitante veio visitar seu familiar, ele não pode aproveitar para visitar outros - diz a enfermeira Ariane.

Essa lavagem das mãos pode ser feita com álcool gel ou água e sabonete antes de se realizar quaisquer cuidados em relação ao paciente visitado. A médica Caroline alerta que, no inverno, há muita gente que se gripa ou resfria, não toma os cuidados e vai ao hospital, de modo que transmite doenças infectocontagiosas aos pacientes internados.

E os visitantes devem evitar oferecer lanches "de fora", já que os pacientes têm dietas específicas entregues pelos hospitais. Caroline lembra que os controles nas cozinhas dos hospitais são rigorosos, com uso de máscaras e gorros o tempo inteiro, além do apoio das equipes de higienização. Se o visitante for lanchar, o ideal é fazer isso fora dos quartos.

PEDRO NAKAMURA

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