sábado, 13 de maio de 2023


12/05/2023 - 09h49min
Martha Medeiros

Mãe nunca larga de mão

Venho há alguns anos tentando me equilibrar entre ser uma desestressada e uma madre superiora

Nenhuma pesquisa científica comprova, é achismo meu: mães são mais controladoras que os pais, mais vigilantes que os pais. Resultado: os pais viram os fofos da casa e as mães, as megeras – ainda que megeras essenciais. O problema é que ser essencial pesa. A garotada acaba preferindo a companhia dos relaxadões, pais que parecem irmãos mais velhos. Tudo em tese, gente. Em tese.

Venho há alguns anos tentando me equilibrar entre ser uma mãe desestressada e uma madre superiora. Não tenho mais criança em casa, sou mãe de duas jovens adultas, tem cabimento se meter na vida delas? Claro que tem cabimento, óbvio que tem cabimento, mas a Associação Psicanalítica do Universo pode aparecer por aqui e me levar algemada para averiguações, então a gente finge que largou a filharada de mão.

Mãe nunca larga de mão. Never. Jamé.

Ainda assim, andava me sentindo evoluída, certa de que tinha alcançado o nirvana da maternidade, quando minha filha mais velha me deu uma situada. Estávamos falando pelo telefone e ela reclamou sobre algo que aconteceu no trabalho dela. 

Eu prontamente apresentei um desenlace para acabar com o problema. Foi quando ela me disse: “Mãe, é só uma queixa trivial, uma bobagem, estou desabafando. Já reparou que a cada vez que eu comento sobre alguma coisa, tu tens a solução na ponta da língua?”

Mãe aguenta cada injustiça. Fingi que concordei, mas só depois de desligar o telefone é que concordei de fato. Lembrei que a cada vez que ela falava que fazia frio (mora no Exterior), eu recomendava uma rede de lojas que vende cashmere por um preço em conta. Se ela dizia que andava se sentindo cansada, eu sugeria que ela fizesse outro teste de covid. Se ela havia errado o ponto do molho, eu vinha com uma receita tirada não sei de onde (o fogão e eu mal nos conhecemos). Se ela reclamava do próprio cabelo, eu mandava por WhatsApp a foto do corte perfeito. Se ela brigava com o namorado, então, eu vinha com uma palestra pronta. E não sou chata, imagina se fosse.

Sou mãe. É autoexplicativo.

Sejam nossos filhos destrambelhados ou bem resolvidos, estamos sempre a postos para resolver suas questões. Os coitados não podem abrir a boca. 

“Meu colega da faculdade vai se casar”(a mãe: precisa mandar lavar aquele seu terno azul marinho). “Amanhã tenho que estar no aeroporto às 7h” (mãe: não esquece de programar o despertador). “Vou participar de uma maratona” (mãe: treina bastante antes de correr, tem gente tendo ataque cardíaco aos 30.

Deliciosamente trágica.

Mas melhorei bastante. Minha filha vai mesmo participar de sua primeira maratona, mesmo não tendo preparo físico para correr atrás de um ônibus. Estou fingindo naturalidade. Não sobrou uma unha nos dedos, mas ando super querida, relaxadona, praticamente um pai.

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