quinta-feira, 11 de maio de 2023


11 DE MAIO DE 2023
OBITUÁRIO

Luiz Carlos Borges, músico nativista, morre aos 70 anos

Morreu, na noite de ontem, o músico nativista Luiz Carlos Borges, aos 70 anos. O artista sofria com problemas de aneurisma de aorta, solucionados em cirurgias anteriores, mas sem sucesso na última intervenção realizada, segundo a família.

O músico, que estava internado desde o dia 29 de março no Hospital São Francisco, em Porto Alegre, partiu estando rodeado dos familiares. Até o fechamento desta edição, não havia informações sobre o velório.

A marca de Luiz Carlos Borges para a cultura gaúcha é incontestável. O artista subiu ao palco pela primeira vez aos nove anos de idade, em 10 de outubro de 1962, e nunca mais saiu. De seus 70 anos, 60 foram em cima do palco, onde o músico esteve sempre acompanhado da sua fiel escudeira, a gaita.

Borges foi um dos nomes com mais tempo de carreira na música regionalista, com 35 álbuns, 269 composições e 720 gravações registradas no Ecad, o órgão responsável pela arrecadação e distribuição de direitos autorais no Brasil.

O músico também deixa sua marca na forma de tocar gaita. Tinha um estilo próprio de conduzir e compor com o instrumento, misturando referências das músicas de baile, das canções homéricas dos festivais e de ritmos como o jazz e o blues. Também foi amante inseparável da improvisação, mas sua característica mais marcante como instrumentista foi a intensidade.

- Eu não sei pegar a cordeona sem ser de forma séria. Não me divirto com o instrumento, eu choro com ele. É esse o jeito que eu sei tocar: chorando por dentro. Penso que se eu acreditar no que estou tocando, com certeza chegarei no coração das pessoas - disse Borges para ZH, nas comemorações de seus 70 anos, em março.

Reaprendizado

Em 2019, ele sofreu um aneurisma na aorta e ficou 85 dias internado no hospital, sendo 70 na UTI. Foi necessário reaprender a andar, a falar e a viver com autonomia. Diante das limitações físicas, Borges afirmou que sua menor preocupação era a gaita, mas confessou que rezava para que, se um dia pudesse voltar a tocar o instrumento, que fosse para voltar fazendo bonito.

A prece foi atendida. Depois de um período de readaptações, Luiz Carlos Borges voltou aos palcos em julho do ano passado, abraçado na cordeona. Precisou mudar um pouco a forma de tocar, pois ficou com limitação de movimento na mão esquerda, mas seguiu colocando em prática as características que o alçaram ao hall de grandes gaiteiros do país.

Neste período, ele decidiu revisitar o chamado "lado B" de sua obra, revendo canções que há tempos não encontravam a boca e o acordeom do intérprete. Com esta viagem musical ao passado, o artista começou a preparar o show que marcaria a sua volta. O repertório de O Que o Coração me Exige contou com canções intimistas, muitas delas vencedoras de festivais nativistas e que têm um significado especial em sua trajetória musical.

- Fui aos poucos me adaptando, até adquirir total confiança. Pensei: esta é a hora, beirando os 70 anos, de me reinventar. Não preciso mais desse impressionismo. Posso tocar notas curtas, notas longas, notas que comuniquem melhor. Harmonia mais dedicada, um pouco, para poder substituir coisas na canção sem perder a condição que a canção te exige - pontuou.

No dia 25 de março deste ano, Luiz Carlos Borges promoveu uma festança para receber os fãs em um dia inteiro de atividades dedicadas a celebrar os seus 70 anos de vida e 60 de carreira.

O evento, batizado de Chama- me Borges: O que Tem que Ser Dito, teve 12 horas de programação, com bate-papos sobre música, roda de chimarrão e shows no estilo canja, com nomes como Renato Borghetti, João de Almeida Neto, Daniel Torres, Shana Müller, Joca Martins, Érlon Péricles e Os Fagundes.

OBITUÁRIO

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