Querida Juliana Brizola,
Estamos esperando seu pronunciamento após as eleições municipais. Não diria após a derrota na eleição - seria sensacionalismo! -, porque você saltou de 6,41%, com 41.407 votos no pleito de 2020, para 19,69%, com 136.783 votos em 2024.
Fez três vezes mais votos, conquistou três vezes mais a simpatia dos porto-alegrenses em quatro anos. Está muito longe de significar um fracasso, pelo contrário, corresponde ao fortalecimento do seu nome.
Seu avô Leonel Brizola se mostraria inteiramente orgulhoso. Ninguém o convenceria a ser breve, pois a encheria de elogios. O histórico PDT voltou a ter representatividade, e candidatura própria. Nas urnas, por duas décadas, a sigla não conseguia nem 5% dos votos. Era uma agremiação nanica na corrida ao Executivo, não fazendo jus ao trabalhismo e às passagens pelo paço municipal e pelo Piratini.
Você é a primeira liderança feminina que apareceu com brilho e relevância no meio de candidatos majoritariamente masculinos por aqui, desde a Carta de Lisboa, de 17 de junho de 1979. É finalmente aquela rosa brotando da mão, com o perfume da coragem.
Tem a experiência de vereadora e três mandatos na Assembleia, então, não se abata. Não sei se está chateada ou desesperançosa. Não pense nos 6,59% que faltaram para entrar no segundo turno, pense que já teve apenas 6,41% do total de votos. É uma evolução extraordinária.
Sopre os óculos, limpe as lentes na camisa, e vamos dar um depoimento bonito para todos que acreditam em suas propostas. Os bastidores são inconfessáveis: as tristezas do quase, a realidade por um triz, as hipóteses acumuladas na fantasia. Não dá para controlar o futuro ou mudar o passado. Nem ser tragado pela culpa ou pelo perigoso conto de fadas do "se eu tivesse".
É assim mesmo, a política não é feita do dia para a noite. Por pouco, não foi vice-prefeita, em chapa encabeçada por Sebastião Melo, em 2016. Melo se reinventou depois de ser superado por Nelson Marchezan.
É um trabalho de formiguinha. E a formiguinha só assume asas no período subsequente às chuvas. Ou seja, às lágrimas. Ela sente a aproximação das águas do céu e prepara uma revoada para fundar novas colônias. Não é isso o que você pretende, defendendo a bandeira da educação, com a Escola de Tempo Integral?
Você, que viveu a infância no exílio do Uruguai, conhece melhor do que ninguém o gosto amargo da saudade de sua terra. Que use essa saudade como combustível da esperança. Todo protagonista foi antes um coadjuvante roubando atenção, com um talento maior do que o papel recebido. Você já extrapolou as expectativas. E seguirá surpreendendo.
Ainda que não queira escolher um dos lados para apoiar, devido à postura antipolarização, não deixe de se manifestar. Foi tão triste quando Ciro Gomes, do PDT, viajou para Europa em completo silêncio na eleição presidencial de 2018.
Fale, xingue, proteste, exponha os seus sentimentos, mas não encerre a sua participação sem uma análise final. O caráter se forja na adversidade, e isso você tem de sobra.
Abraço, Fabrício Carpinejar
Querido Carpinejar,
Juliana Brizola aqui. Atendi o teu pedido, me pronunciei. Nunca imaginei que um dia de silêncio fosse causar tanto frisson. Te agradeço as palavras. Todos choraram aqui em casa. Mas acalmou nossos corações.
Beijo grande,
Juliana Brizola
CARPINEJAR
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