sábado, 10 de janeiro de 2015


10 de janeiro de 2015 | N° 18038
ARTIGOS

CINTO MUITO

Os brasileiros, em linhas gerais mas evitando a generalização, têm nas suas características comportamentais a pouca disciplina e um otimismo exagerado, desconectado mesmo da realidade, que os leva a crer que as desgraças nunca vão acontecer com ele. Realmente, é bom que se diga, grandes tragédias, como terremotos, tsunamis, furacões ou mesmo guerras de grandes proporções, nunca ocorreram por aqui, o que talvez tenha “habituado” as pessoas a assim procederem.

Outro fator preponderante é o desconhecimento absoluto das leis da física, principalmente aquela da dissipação da energia: ninguém acredita, até ver, que uma pessoa pesando cem quilos possa ser ejetada pelo para-brisas do carro a vários metros de distância se estiver sem cinto de segurança numa colisão abrupta com grande probabilidade, neste caso justificada, de morrer.

Somando, então, indisciplina, otimismo injustificado e ignorância, temos a equação da pouca ou nenhuma utilização do cinto de segurança nos veículos. Mesmos nos aviões, vemos frequentemente pessoas sentadas sem cinto apesar dos constantes avisos do pessoal de bordo.

Agimos todos, conscientemente ou não, guiados pela lei das probabilidades. Senão vejamos, não vamos a certos locais à noite por considerarmos alta a probabilidade de sermos assaltados, as campanhas antifumo reiteram a grande probabilidade de doenças associadas ao vício e assim por diante.

O que oscilava, até pouco tempo, entre alta e baixa probabilidade passou a ser quantificado recentemente, como, por exemplo, a previsão do tempo, em que a probabilidade de chuva possa ser 50%, o que traz, até acostumarmos, certas dúvidas, nesta situação, como carregar guarda-chuva ou óculos de sol.

A “solucionática” para essa “problemática”, como dizia o grande Dadá Maravilha, passa, para variar, pela educação do nosso povo. Infelizmente, ainda vai custar muitas vidas.

Será uma sucessão interminável de “sinto muito”.

Médico e professor universitário - FERNANDO DE OLIVEIRA SOUZA