sexta-feira, 30 de setembro de 2016



30 de setembro de 2016 | N° 18648 
DAVID COIMBRA

Os bandidos não aguentam mais violência

Finalmente alguém tomou uma atitude para resolver o problema de segurança no Rio Grande do Sul.

Para meu imenso alívio, no final da tarde de ontem li a notícia alvissareira sobre a nova facção criminosa que, preocupada com os níveis da criminalidade no Estado, decidiu dar um basta na situação. Os bandidos lançaram um manifesto defendendo “limites para a violência”.

Estaquei, entre perplexo e encantado. Minha coluna já estava pronta, liguei para o jornal e pedi para que a segurassem. Parem as máquinas!

Um valor mais alto se alevanta, como dizia Camões.

Porque era disso que necessitávamos. Com o Estado, a população não pode contar. Em nenhum nível. Nem federal, nem estadual, nem municipal. Já está provado que os governantes brasileiros são incompetentes e inapetentes nessa questão. O que o cidadão poderia fazer? Criar milícias? Isso é que não, o gaúcho é um povo ordeiro. Só uma organização poderosa e especializada no assunto poderia fazer algo. E... presto! Os bandidos se comoveram com o problema.

Li com grande alegria o manifesto. Em primeiro lugar, há que se elogiar a qualidade poética do texto. O título é:

“Compromisso com o lado certo da vida errada”.

Quem foi que criou essa frase? Contratem esse homem para assessorar o Temer, pelo amor de Deus!

No texto, os criminosos se disseram “incomodados” com “práticas extremas”, como “esquartejamento de vítimas ou morte de crianças e mulheres”. Eles dizem que essas ocorrências “ultrapassam o que seria considerado como aceitável”.

E é verdade. Vocês já viram como é desagradável um esquartejamento? Totalmente fora dos limites do aceitável.

Os bandidos dão sequência ao manifesto informando que “a partir da data de hoje está formada uma facção com respeito a todos”.

Era do que precisávamos: res-pei-to! Tão cientes eles estão dessa nossa necessidade, que finalizaram o texto com uma afirmação definitiva:

“Portanto, o surgimento deste grupo é para o bem de todos, para o bem da sociedade, pois é para a sociedade que devemos o nosso maior respeito”.

Eis! EIS! A preocupação com o social. Com o bem de todos. Até que enfim surge uma entidade que respeita a sociedade. Porque é muito fácil roubar à sorrelfa: você vai lá, monta um partido ou entra em algum que já existe, elege-se para alguma coisa e negocia o seu voto para um projeto, para uma medida provisória, em uma CPI. E, se você se eleger para o Executivo, aí sim! Você não apenas abastece a sua conta bancária como sai por aí dizendo que se preocupa com os pobres.

Mas se preocupa mesmo? Claro que não! Os pobres estão morrendo de assalto, de bala perdida, de bala achada. Até que... Até que alguém que sabe o que fazer decide fazer algo. Os bandidos. O meu, o seu, os nossos bandidos se reuniram e gritaram, com maiúsculas, CHEGA!

Deus seja louvado. Estamos salvos.