sexta-feira, 19 de junho de 2020


19 DE JUNHO DE 2020
OPINIÃO DA RBS

O ENIGMA QUEIROZ

A prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, dá a chance de finalmente ser desvendado o enigma que cerca as atividades do policial aposentado e as suas conexões com o clã presidencial. O país não pode conviver com dúvidas sobre possíveis atitudes ilícitas que envolveriam em um primeiro momento o filho 01 de Jair Bolsonaro e que poderiam até atingir o mandatário da República, amigo de longa data de Queiroz, que até as eleições de 2018 era uma espécie de faz-tudo da família.

As peças do quebra- cabeça que precisam ser encaixadas devem esclarecer questões que vão além da chamada rachadinha, a prática em que assessores de Flávio, à época deputado estadual no Rio, seriam obrigados a devolver parte dos salários, esquema supostamente operado pelo ex-assessor. É necessário entender, por exemplo, por que vários parentes de um chefe de milícia eram funcionários do gabinete do então parlamentar fluminense e, principalmente, buscar novas informações acerca do possível vazamento de informações sobre operação da Polícia Federal, em outubro de 2018, que teria Queiroz como um dos alvos, conforme denunciou o empresário Paulo Marinho, ex-apoiador do presidente. A estranha demissão do assessor entre o primeiro e o segundo turnos da eleição presidencial é um indício forte de que algo grave ocorreu.

É imprescindível ainda conhecer as razões de Queiroz estar há um ano escondido em uma casa do advogado Frederick Wassef, que atende Flávio e o próprio Jair Bolsonaro e é frequentador do Palácio do Planalto. Wassef garantia que não sabia do paradeiro do policial aposentado. Agora, também deve explicações.

Não resta dúvida da proximidade de Queiroz com o presidente, o que sequer é negado por ele. O quanto essa relação contamina o próprio Bolsonaro e o governo é outra questão que, pela extrema gravidade e sensibilidade, precisa ser aclarada o mais rápido possível. A atual gestão, envolvida em crises sequenciais, mal consegue dar conta dos temas sérios do país. Depois de sucessivos presidentes com atitudes investigadas, seja na área criminal, seja na administrativa, o Brasil não precisa de mais instabilidades e desconfianças sobre o ocupante do principal cargo da República.

Essa imensa carga de intranquilidade presente nos últimos anos faz os brasileiros esperarem que, muito além de ações espetaculosas, como a prisão ontem, a detenção e o interrogatório do ex-assessor sirvam para desenrolar o novelo dessa história emaranhada e repleta de incógnitas e dúvidas. É preciso, portanto, que se conheçam o mais rápido possível as respostas para os mistérios que envolvem Fabrício Queiroz, com as consequências que forem previstas em lei, nas esferas políticas e legais, para que a população e os poderes possam dedicar as suas atenções e esforços para o combate à pandemia e ao resgate do país da recessão que se aproxima.

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