quarta-feira, 24 de junho de 2020



24 DE JUNHO DE 2020
MÁRIO CORSO

Infância e medo da pandemia

Ouço pais preocupados porque seus filhos estão mais temerosos do que o usual. Especialmente com medo do "corona". Como abordar essa fobia?

Difícil dizer toda a verdade, pois elas não iriam assimilar - aliás, como percebemos, nem alguns adultos -, mas algo é preciso falar. O desafio é adequar o que vivemos ao linguajar e à possibilidade emocional infantil.

Que estamos em tempos difíceis as crianças já sabem. Elas são mais espertas do que vocês imaginam. Os pequenos vivem para o universo doméstico, o único que conhecem e com que realmente se importam. Seu castelo mudou: elas observam seus reis e rainhas com máscaras, apreensões e rituais de limpeza nunca antes vistos. Algo novo está no ar e não parece coisa boa.

O que assusta as crianças não é a realidade do vírus, o que as amedronta é ver seus protetores acuados. Se o imperador e a imperatriz do cosmos estão com medo, como que ela não estaria? Portanto, o mais importante é como ela percebe seus cuidadores.

Você está assustado, entendo, todos estamos, a questão é como passar tranquilidade. Tracemos um paralelo. Ao pegar um avião, teu filho, apreensivo, pergunta: este avião não cai né? Eis algo que não temos como prever. O que você responde?

Já disseram que amar é dar o que não se tem. Nesse caso, seria a paz de que acidentes aéreos são raros e que tudo vai dar certo. Um filho acredita mais na confiança que seus pais lhe oferecem do que na segurança da nave.

Quando ele crescer, vai aprender a lidar com o imponderável, na infância é cedo para isso. É preciso, em primeiro lugar, não mentir, o que seria inútil, eles sempre percebem o engodo. Além disso, precisamos transmitir esperança e dizer outra verdade, igualmente correta: que faremos tudo para protegê-los.

Ser adulto é criar uma casca contra o caos. Claro, há os que nunca crescem e usam o expediente de mentir a si próprios sobre as ameaças que não existem, apenas porque gostariam que assim fosse.

Cuidar dos filhos não é ensiná-los a fugir da realidade. Eles precisam saber que há momentos difíceis, trágicos, e as histórias infantis ajudam a entender isso. Mais do que nada, precisam confiar que seus adultos são vigilantes, para detectar e lutar contra os perigos. Isso ajuda a atravessar os tempos de pesadelo e também inspira-os a crescer.

MÁRIO CORSO

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