sábado, 20 de junho de 2020



20 DE JUNHO DE 2020
CLAUDIA TAJES

A Orquestra Villa-Lobos pede ajuda para continuar

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Heitor Villa-Lobos, na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, é o palco de um projeto que há 28 anos coloca as crianças e os adolescentes da comunidade em contato com a música. A Orquestra Villa-Lobos foi criada pela professora e regente Cecília Rheingantz Silveira a partir de um desejo: mostrar que a vida, mesmo a de quem nasce na periferia das oportunidades, tem muitos e muitos caminhos.

Tudo começou quando a professora designada para lecionar artes na Villa-Lobos propôs uma atividade no contraturno escolar. Para iniciar os alunos na flauta, instrumento que é a paixão dela desde os oito anos de idade, Cecília fundou o Clube de Flautas, que abriu em 15 de abril de 1992 já com 14 inscritos.

De lá para cá, o Clube agregou instrumentos, vivências e experiências e se transformou na Orquestra Villa-Lobos, que hoje faz parte do cotidiano da Vila Mapa e de mais três regiões da Lomba do Pinheiro. Através de oficinas, hoje são realizados 600 atendimentos semanais, quer dizer: 600 jovens têm acesso à arte todas as semanas. Agora imagine a importância disso no momento em que o nosso país vive um completo e total desprezo pela cultura.

Cecília conta que o trabalho da Orquestra Villa-Lobos se apoia em três pilares. A educação é a espinha dorsal, e nem poderia ser diferente no projeto idealizado por uma mulher que tem dedicado todos os seus dias a ensinar. Em seguida vem a arte e a cultura e o braço social - ainda que todos se misturem como em uma melodia.

A porta de entrada é a iniciação à flauta doce e o coral infantil. Cada jovem fica, em média, cinco ou seis anos na Orquestra. Muitos dos que iniciaram crianças são hoje adultos formados em Música, e continuam atuando como professores e incentivadores dos que chegam. Outros saíram da Orquestra Villa-Lobos para ganhar o mundo, como é o caso de Vladimir Soares, o Vlad, que ganhou uma bolsa de estudos em Stuttgart, na Alemanha. Lá, onde fez um segundo mestrado, ele recebeu a nota máxima, coisa que há 25 anos não acontecia em flauta doce. Em suas férias, Vladimir Soares costuma vir ao Brasil e se apresenta em uma série de concertos. Fica a dica, caso a pandemia nos dê uma trégua nos próximos meses.

A Orquestra Villa-Lobos oferece a oportunidade para os jovens expressarem e desenvolverem potencialidades e sensibilidades que, muitas vezes, eles nem sabiam ter. Mas em meio às incertezas da covid-19, todo este trabalho está ameaçado. Em abril, os recursos que permitiam o funcionamento da Orquestra foram suspensos por tempo indeterminado, causando o desligamento de 20 professores contratados e a paralisação momentânea das atividades.

Seria uma tragédia em qualquer contexto, e mais ainda quando se sabe o incrível trabalho que a Orquestra Villa-Lobos faz em um ambiente tão exposto à vulnerabilidade.

Para salvar o projeto, foi lançada uma campanha de financiamento coletivo para arrecadar recursos para a recontratação dos profissionais. A campanha Bloco na Rua, numa referência à música de Sérgio Sampaio que faz parte do repertório, está no ar pela plataforma Catarse e traz diversas recompensas a partir da contribuição de R$ 20: livros, CDs, aulas de música online e shows ao final da quarentena. Quanto mais for arrecadado, por mais tempo será garantida a sobrevivência deste projeto que há quase 30 anos transforma a realidade das crianças e jovens da Vila Mapa. E que já foi reconhecido, premiado e serviu de exemplo para iniciativas no Brasil e no mundo. Cecília encerra:

- Quando a gente fala em transformação por meio da educação, da arte e da cultura, eu posso dizer que a Orquestra Villa-Lobos é realmente um exemplo do que pode acontecer. E acontece.

Para a Orquestra Villa-Lobos continuar viva, palmas sempre para ela e a nossa contribuição aqui: catarse.me/bloco_na_rua.

CLAUDIA TAJES

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