segunda-feira, 27 de junho de 2022


27 DE JUNHO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

VIDAS SALVAS PELA CIÊNCIA

Apesar do negacionismo que, infelizmente, ainda perdura entre grupos e indivíduos mais radicais, as vacinas evitaram mais de 1 milhão de mortes de brasileiros pela pandemia da covid-19 até o final do ano passado. É o que mostra estudo sobre o impacto global do primeiro ano de vacinação, publicado na semana anterior pela revista The Lancet, considerada a mais importante do mundo na área das ciências médicas. O levantamento estima também que quase 20 milhões de pessoas foram salvas em todo mundo pelo processo de imunização desenvolvido e aperfeiçoado em tempo recorde por cientistas de vários países.

Mas essa vitória inquestionável da cooperação científica também inclui um aspecto desolador: a estimativa de que outras 599 mil vidas poderiam ter sido salvas se a meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) de vacinar 40% da população de cada país, com duas ou mais doses até o final do ano passado, tivesse sido atingida. Ou seja: a humanidade foi ágil para encontrar o remédio preventivo e inapta para aplicá-lo em tempo hábil na proporção necessária. Ainda assim, 7,5 milhões de mortes foram evitadas em países cobertos pelo consórcio Covax, que possibilitou a vacinação de populações de baixa renda graças à Aliança Mundial para Vacinas e Imunização (Gavi), da OMS e do Unicef.

O estudo evidencia a desigualdade no acesso às vacinas pelo mundo, mostrando, por exemplo, que, enquanto países como Reino Unido e Brasil já têm gente recebendo a quarta dose da imunização, em nações como a Somália somente 10% da população já chegou à segunda dose. Na análise específica sobre nosso país, o levantamento destaca que "as mensagens confusas do governo brasileiro" trouxeram prejuízos, mas não impediram que a maior parte da população fosse beneficiada e que cerca de 1 milhão de pessoas fossem salvas.

Ao mesmo tempo que as hesitações políticas transformaram o Brasil num dos países mais atingidos pela pandemia, a vacinação e outras medidas preventivas adotadas pelos governos estaduais levaram o país a uma redução drástica no número de internações e mortes nos últimos meses. Mas o relaxamento das medidas de proteção vem provocando surtos localizados que demonstram claramente riscos de novo recrudescimento da pandemia e até mesmo do surgimento de novas variantes. Não podemos nos desmobilizar.

A precária estabilidade alcançada só será mantida se o poder público continuar oferecendo suficiente imunização, se a população fizer a sua parte, cumprindo as medidas individuais recomendadas e não se deixando enganar pela desinformação e se houver o fortalecimento das estruturas de pesquisa e prevenção, tanto nacionais como internacionais.

Os cientistas, os médicos e os agentes de saúde continuam merecendo amplo reconhecimento, como comprova o levantamento global divulgado pela revista The Lancet, mas a vitória definitiva sobre a epidemia depende de comportamentos individuais, de uma consciência coletiva que ainda não está totalmente consolidada e do fortalecimento das estruturas de pesquisa e prevenção, tanto nacionais como internacionais.

O momento requer prudência por parte das autoridades e atenção permanente em relação ao cenário epidemiológico, de modo que eventuais agravamentos possam ser combatidos antes de sobrecarregar o sistema de saúde pública e a rede hospitalar especializada.

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