quinta-feira, 30 de junho de 2022


30 DE JUNHO DE 2022
ZÉ VICTOR CASTIEL

O fator Araújo Vianna

José de Araújo Vianna, compositor gaúcho da virada do século 19 para o 20, cuja obra mais famosa foi a ópera Carmela, jamais poderia imaginar que, além de ser homenageado no nome de um auditório tradicionalíssimo de Porto Alegre, seria também, quase cem anos depois, um símbolo de reconhecimento de paciência, sucesso e resistência da cultura democrática do entretenimento da capital dos gaúchos.

O primeiro Araújo Vianna foi inaugurado em 1927 e era uma concha acústica com arquibancadas ao ar livre exatamente onde hoje é o prédio da Assembleia Legislativa. Ao ser demolido, acabou achando seu local perene no coração do Parque Farroupilha no início dos anos 1960. Nasceu com a democracia em seu DNA e já abrigou todos os tipos de manifestações populares que se pode imaginar. Aos poucos, foi se desgastando, até ficar um pouco esquecido.

Depois de uma licitação, vencida pela produtora Opus, já no século 21, o Araújo passou a ter um aspecto de auditório de eventos culturais novamente e retomou o caminho do entretenimento, principalmente cultural.

Ao vencer o prazo da primeira parceria público-privada, nova licitação foi feita e, desta vez, foi vencida pela Opinião Produtora, que, além de se comprometer (e cumprir) a manter o Araújo Vianna como um templo de diversão de Porto Alegre, ainda ficou encarregada de reformar e entregar para a cidade o velho Teatro de Câmara, depois Túlio Piva, na Rua da República, 575. Acontece que a pandemia deu pouco tempo ao Opinião, fazendo com que ficassem suspensas as atividades do nosso auditório.

Escrevo tudo isso para dizer que agora, no momento em que os eventos já podem ser presenciais em sua plenitude, cabe nossa reverência e profundo agradecimento aos homens que conduzem a Opinião Produtora. Em momento algum se viu algum deles reclamando ou amaldiçoando o status imposto. Ao contrário: puseram-se a planejar a volta com tal volúpia que agora não existe uma só semana em que o auditório não abrigue multidões para curtir eventos locais, nacionais ou internacionais.

Enquanto o público ficava isolado em casa, os abnegados da Opinião já projetavam a volta. E que volta triunfal. Se hoje Porto Alegre está muito mais aliviada, é também porque toda semana pode escolher, de forma democrática, uma superdiversão no querido auditório da Redenção.

Afirmo, sem medo de errar, que a grande resistência dos trabalhadores do entretenimento cultural possui um símbolo: o Auditório Araújo Vianna e o inspirador profissionalismo da grande amiga da cultura, a Opinião Produtora. Ninguém parou para pensar no que este segmento e, particularmente, esses caras sofreram. Gratidão é a única palavra que vem à cabeça de todos nós, trabalhadores do entretenimento cultural. Vocês estão na história de Porto Alegre.

ZÉ VICTOR CASTIEL

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