terça-feira, 28 de junho de 2022


28 DE JUNHO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

A FILA DA FOME

O Brasil que faz quatro refeições diárias precisa resolver com urgência o problema do Brasil que passa fome. Sob o rótulo mais palatável de insegurança alimentar, o tema já é pauta obrigatória da campanha eleitoral que se avizinha. Mas os cartazes de papelão erguidos nos semáforos das grandes cidades, os barracos armados nas calçadas e os acampamentos improvisados sob marquises escancaram o crescimento exponencial da população vulnerável. A fome não pode esperar pela burocracia nem pela demagogia dos discursos políticos.

Só no Rio Grande do Sul, o número de famílias que buscam o Auxílio Brasil subiu de 21 mil para 96 mil em quatro meses. A procura quase desesperada pelo programa social criado para transferir renda a famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza evidencia o agravamento da situação num contexto de inflação persistente, preços crescentes e falta de oportunidades de trabalho.

O irônico deste quadro desolador é a constatação de que o país produz alimentos suficientes para suprir um sexto da população mundial, como lembrou o presidente Jair Bolsonaro na última reunião da Cúpula das Américas. Ao mesmo tempo, um informe do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, elaborado pela Rede Penssan, que reúne pesquisadores de universidades e instituições nacionais, registrava que o contingente de brasileiros passando fome já ultrapassa 33 milhões de pessoas. Até mesmo a FAO, agência de alimentos da ONU, considera vergonhoso e contraditório que um dos maiores produtores de comida do mundo não consiga erradicar a fome de sua população.

Sobre a insegurança alimentar dos brasileiros, é sempre importante esclarecer que não se trata de milhões de pessoas famélicas e subnutridas, mas predominantemente de indivíduos que, mesmo quando conseguem se alimentar, não sabem se terão comida no dia seguinte ou na refeição seguinte. Evidentemente, isso em nada atenua a gravidade do problema nem diminui o tamanho do desafio.

E o desafio certamente não é apenas prestar ajuda emergencial, seja através de auxílios sociais do terceiro setor ou de programas oficiais de transferência de renda. Ainda que tais ações sejam necessárias e indispensáveis no momento, o país precisa encontrar também soluções estruturais duradouras para a população vulnerável, o que só poderá alcançar com políticas públicas centradas na educação, na formação profissional e na criação de empregos.

Nesse contexto, programas assistenciais como o Auxílio Brasil e o Bolsa Família são oportunos, mas devem manter abertas as portas de saída para que as pessoas não fiquem dependentes nem percam a esperança de conquistar uma vida mais digna. Além disso, é fundamental que sejam executados com planejamento e transparência, de modo que os brasileiros que trabalham e pagam impostos tenham a certeza de que os recursos públicos estão sendo utilizados para uma causa justa e não apenas para promover eventuais ocupantes do poder.

O enfrentamento da fila da fome exige ações conjuntas e permanentes do poder público, do poder econômico e de organizações da sociedade civil.

OPINIÃO DA RBS

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