sábado, 9 de dezembro de 2017


09 DE DEZEMBRO DE 2017
J.J. CAMARGO

A VIDA DEPOIS DO TOPO DEPENDE DE VOCÊ

a inspiração pelo exemplo magnífico é efêmera para fins de objetivos duradouros

É constante a observação de que todo grande serviço ou empresa não teria existido se não fosse a iniciativa de uma única pessoa, e quase sempre com o mesmo perfil: inteligente, focado, escasso em sorrisos fúteis, ensimesmado, pouco influenciável com as opiniões alheias. E claro, com uma determinação capaz de vencer a inércia, a preguiça, o desânimo e o pessimismo da maioria que veio a este mundo sem preocupações com protagonismo.

Aprendi que esses ingredientes somados serão suficientes para fazer uma empresa decolar e conseguir uma posição de destaque na sua área de atuação, inclusive estimulando, pela liderança positiva, que pessoas jovens sigam essa trilha de sucesso. Mas aprendi também que toda liderança inspiradora no seu tempo de brilho não é capaz de manter a pujança da empresa, depois que o líder se for, alimentada apenas pela pretérita contribuição anímica do pioneiro.

A inspiração pelo exemplo magnífico pode ser comovedora, mas é efêmera para fins de objetivos duradouros. Então, para se perpetuar, é preciso mais do que isso. É fundamental que aquele líder, inovador e afeito a desafios, além de empolgar os mais jovens, tenha sido humilde para atrair a parceria dos mais competentes e criativos, e conviver sem melindres com a possibilidade, sempre real, de ser ultrapassado por eles.

Infelizmente, predomina em todas as áreas este modelo equivocado de exército de um homem só, que consegue despertar atenção e respeito enquanto dura, mas, depois que se vai, seu legado acaba varrido pelo triturador impiedoso do tempo, este monstro que finge generosidade na preservação da memória do idolatrado mentor, mas é implacável no confronto competitivo da nova realidade, se não houver entre os herdeiros, alguém que seja, pelo menos, do mesmo tamanho do líder que morreu.

E isso se explica: por mais que a trajetória do chefe tenha sido brilhante e memorável, o progresso futuro não usará lembrança, nem saudade, como combustível. Quem em vida for mesquinho para se proteger da competição interna, deixando-se rodear apenas pelos medíocres subservientes, condenará a empresa da sua vida a ter uma vida só.

Como a manutenção do alto nível de uma instituição qualquer é tão ou mais difícil do que sua criação, a sequência de prosperidade não dependerá da quantidade de lacaios que se acercaram para aplaudir, mas da qualidade dos que já saltaram no barco com o remo na mão.

J.J. CAMARGO