sábado, 23 de dezembro de 2017


Um símbolo que cai

Leonardo Benassatto/Reuters
Member of Brazil's Lower House of Congress Paulo Maluf (2nd R) is escorted by Federal Police as he leaves the Medical Legal Institute in Sao Paulo, Brazil December 20, 2017. REUTERS/Leonardo Benassatto ORG XMIT: SAO100
O deputado Paulo Maluf (PP-SP), após exame de corpo de delito nesta quarta (20)


Há muito de patético, sem dúvida, na imagem de um Paulo Maluf curvado, de bengala, sendo conduzido pela Polícia Federal para cumprir uma pena de prisão. Aos 86 anos, o deputado federal pelo PP de São Paulo não mais aparenta aquela indestrutível autoconfiança que, desde seu primeiro cargo na política, em 1969, surgia como afronta aos olhos de seus adversários e como sinal de determinação e empenho construtivo aos adeptos que nunca deixou de ter.

A avançada idade em que a sentença de sete anos, nove meses e dez dias de prisão atingiu o ex-prefeito, ex-governador e ex-candidato à presidência da República termina por configurar um símbolo das muitas ambiguidades em que se debate o atual estado do combate à corrupção no país. Escancara-se o conhecido problema da lentidão judicial. O desvio de verbas de que Maluf é acusado remonta a sua segunda gestão como prefeito de São Paulo, entre 1993 e 1996.

Contra o engenho de sofisticados defensores a argumentação proverbialmente tosca do próprio réu (que desafiava as câmeras e o bom senso ao negar a existência de contas em seu nome da Suíça), o Supremo Tribunal Federal só conseguiu condenar Paulo Maluf graças ao extremo rigor da lei contra a lavagem de dinheiro.

Era de todo modo irônico, e o próprio Maluf cuidava de explorar a circunstância, que em meio à onda de escândalos e prisões que atingia tantos adversários —do PT, do PSDB, do PMDB—, um ícone dos desmandos desde o regime militar permanecesse impune.

Em 2005, após um período de detenção de 40 dias, interrompido por um habeas corpus, o político paulista disse ser vítima de pura perseguição —ostentando bom humor, tomando cerveja e comendo no estabelecimento que recebeu o nome de Pastelão do Maluf, em Campos do Jordão (SP).

Em março deste ano, gabou-se de não constar do rol de investigados na Lava Jato e no mensalão. As muitas suspeitas contra ele levantadas ao longo de décadas tendem, de fato, a se diluir na memória coletiva nacional. Que não se minimize, entretanto, a corrupção dos tempos da ditadura, facilitada pela prosperidade econômica, pela censura à imprensa e pelo controle da Justiça.

Se a democracia restaurada herdou os vícios do patrimonialismo, da megalomania estatal e da irresponsabilidade orçamentária, ao menos proporciona as vias para denunciá-los e corrigi-los.