sábado, 23 de dezembro de 2017


23 DE DEZEMBRO DE 2017
OPINIÃO DA RBS

PAÍS SEM FORMAÇÃO


Sem um projeto articulado envolvendo União, Estados e municípios num horizonte mais amplo, o país não conseguirá assegurar padrões mínimos de qualidade,

que são imprescindíveis para o desenvolvimento

Além de contar com 7,2% de analfabetos na faixa de 15 anos de idade ou mais, o Brasil tem nada menos de 51% da população de 25 anos ou mais com apenas o Ensino Fundamental completo. Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2016 (Pnad Contínua), divulgada agora pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e ajudam a explicar por que o Brasil vem perdendo produtividade e competitividade na comparação com outros países. Gestores públicos nas três instâncias da federação precisam fazer com que essas estatísticas sejam usadas para o país se livrar dessa condição. Isso significa que, depois de universalizar a matrícula no Ensino Fundamental, é preciso investir em qualidade.

O mesmo país que conseguiu levar todas as crianças para a escola está agora diante do desafio de mantê-las atraídas pelo aprendizado quando chegam à adolescência. Essa missão não depende de oferta de vagas, pois elas existem, mas de qualificação dos professores, de motivação dos alunos e de conscientização dos pais sobre a importância da educação. 

O alcance da meta vai depender da capacidade das três instâncias da federação de se unirem em favor de uma política continuada de melhorias nessa área, independentemente de quem esteja no poder. Essa é uma precondição para a redução das desigualdades sociais e para a retomada do crescimento em níveis sustentáveis.

Um brasileiro de família de baixa renda que chega aos 15 anos analfabeto vai esbarrar em dificuldades que começam no cotidiano e se estendem ao ambiente de trabalho, pela incapacidade de entender até mesmo instruções elementares de um manual. Em consequência, é improvável que possa ascender socialmente. Na prática, acaba contribuindo para a manutenção e até mesmo o recrudescimento de desigualdades sociais crônicas.

Especialistas identificam que uma das razões fortes para os elevados índices de adultos que não leem é o fato de o processo de alfabetização não ocorrer no 1º e no 2º ano do Ensino Fundamental, mas no 3º. Entre as explicações para o fato de os adolescentes deixarem a escola e não voltarem mais, está o desinteresse pelos conteúdos, que precisam ser revistos.

O fato concreto é que, mesmo diante de números semelhantes revelados em pesquisas anteriores, o Brasil tem demorado a reagir em relação às causas, que são conhecidas, e hoje segue atrás de muitos países da América do Sul nessa área. Sem um projeto articulado envolvendo União, Estados e municípios num horizonte mais amplo, o país não conseguirá assegurar padrões mínimos de qualidade, que são imprescindíveis para o desenvolvimento.