segunda-feira, 11 de dezembro de 2017


11 DE DEZEMBRO DE 2017
DAVID COIMBRA

Vamos acabar com o planeta

Aprimeira neve do outono caiu no sábado passado, tornando branca a Nova Inglaterra, e então fugi para o calor das Arábias.

Vou ver se o Grêmio vai mesmo acabar com o planeta, antes que Trump o faça.

Trump está se esforçando, é melhor o Grêmio se apressar.

Antes de embarcar, assisti pela TV, acomodado no meu sofá, comendo scrambles no café da manhã, ao jogo do Pachuca contra o time de Casablanca.

Não consigo escrever ou falar "Casablanca" sem lembrar de Bogart. "Play it again, Sam". Uma das frases não ditas mais famosas da história do cinema. As frases não ditas sempre são melhores do que as ditas. Eu mesmo não disse muita coisa boa na vida. Um dia ainda faço um livro só com minhas frases não ditas.

Jogar contra o time de Casablanca seria melhor para o Grêmio do que enfrentar o Pachuca. O futebol mexicano tem tradição, e o Pachuca está acostumado a ganhar títulos e a disputar competições importantes. Não será um adversário fácil.

"Arab" vem de "árido", o que, obviamente, tem a ver com as areias do deserto da Península Arábica. Mas quem diria que os povos desse lugar tão seco de vida abalariam o mundo? Isso graças ao maior personagem da história da Idade Média, Maomé, o Profeta.

Maomé era um mercador analfabeto. Aos 40 anos de idade, ninguém que o conhecia diria que faria algo de importante no tempo que lhe restava debaixo do sol. Mas, um dia, ele dormia enrolado em uma colcha de brocado e sonhou que lhe aparecia o Arcanjo Gabriel. Trata-se de visita importante. Gabriel é o anjo anunciador do Senhor. Foi ele quem primeiro disse à futura mãe de Jesus:

- Ave, Maria. O Senhor está convosco.

Com Maomé, o arcanjo foi mais incisivo. Mostrou a ele as inscrições da colcha com que dormia e ordenou:

- Leia!

Maomé respondeu: - Não sei ler.

O arcanjo insistiu: - Leia!

- Não sei ler!

Então, Gabriel apertou a colcha que envolvia Maomé, e o fez com tal força, que o Profeta pensou que ia morrer. Em seguida, Gabriel ordenou outra vez:

- Leia! E Maomé, milagrosamente, leu em voz alta. Com o que, o anjo, enfim satisfeito, desapareceu.

Considero essa passagem do Alcorão um dos maiores símbolos da importância da palavra escrita. Maomé sabia que a coluna que sustentava o judaísmo e o cristianismo era a mesma: a Bíblia.

Não é por acaso que os judeus são chamados de "o povo do Livro". Durante 3 mil anos, muitas vezes os judeus não tiveram pátria nem mesmo etnia que os identificasse. Eles tinham, apenas, O Livro. Foi a palavra escrita que os manteve existindo por milênios de perseguição.

É a palavra escrita que faz o homem saber de si mesmo. É a palavra escrita que torna a humanidade lógica. Quero usar a palavra para contar a saga do Grêmio nas Arábias, nessa tentativa de acabar docemente com o planeta. E, para você, só digo agora o que disse o Arcanjo Gabriel a Maomé, 14 séculos atrás: leia!

DAVID COIMBRA