sábado, 11 de novembro de 2023


11 DE NOVEMBRO DE 2023
BRUNA LOMBARDI

EGO E COLESTEROL

Egotrip é coisa de iniciantes. De quem logo de cara cai na primeira cilada e se deixa seduzir pelo demônio mais idiota. Aquele que comete o mais banal dos pecados: soberba, vaidade, futilidade, arrogância, coisas que mostram como é estúpida a ideia de superioridade.

Como é pobre a ostentação. Falta de noção. Você só vê o brilho do show e não os bastidores, com um monte de gente ralando pra aquilo aconteça, inclusive o astro do show.

Quem só mora na aparência das coisas não sabe que qualquer cenário precisa de estrutura pra se segurar. Quem sonha com a efêmera fama que arranque o véu da invisibilidade precisa ser capaz de olhar para os outros. Quem se deixa capturar na intrincada teia do sucesso e acredita no que vê de fora, mas ignora o que se passa dentro.

Gente que vive da fachada só fica na superfície sem nunca compreender que atrás de todo personagem existe a profundidade da história de uma vida.

Lembrei do filme O Advogado do Diabo, em que Al Pacino, fantástico como demônio, diz a famosa frase: "Vaidade, definitivamente meu pecado favorito". Provando que a vaidade é a raiz de todos os pecados, o pior e o mais demoníaco deles. Da vaidade nascem todas as distorções.

Sempre percebi que viver nos apresenta ciladas, encruzilhadas, escolhas de rumos diversos. Um passo em falso e pronto, caímos. Nos deixamos conduzir pelo ego, pelo nosso pior. Um manipulador que mora com a gente, um sedutor que sussurra coisas perigosas.

Sucesso, fama, grana, elogios não fazem alguém necessariamente uma pessoa melhor. Tudo pode ser unidimensional. Uma festa onde a alegria é fabricada pra disfarçar o vazio. Onde as gargalhadas encobrem o desespero, e o barulho precisa ser intenso porque ninguém quer escutar sua própria voz interior. O ego pode ser um palco brilhante e uma experiência oca.

As redes sociais podem ser extremos condutores de vaidades fabricadas a partir de coisa nenhuma. São os famosos 15 minutos de fama, como previa Andy Warhol. O que poderia ser uma excelente maneira democrática de distribuir o sucesso acaba se revelando uma triste guerra de imagens que tantos travam consigo mesmos. O que poderia ser uma magnífica revelação de talentos descobertos pode se transformar na maratona desesperada de dançar até a última fímbria de resistência.

Reflexos artificiais onde as pessoas deixam de se reconhecer para tentar a qualquer custo a semelhança de um rosto padrão, de um corpo padrão, transumano e desumanizado, que resulta numa insatisfação generalizada. Uma fonte inesgotável de conflitos.

Mas o ego é como o colesterol. Existe o ego bom e o ego ruim. Precisamos do bom pra nos erguer, motivar, dar identidade e ter orgulho do que somos e podemos ser. Do que fazemos e podemos fazer. É o chacra do plexo solar, que nos conduz e posiciona na vida.

Muitas ciladas se apresentaram no meu caminho, e vi que rótulos não me definiam e a vaidade não traduzia as coisas que mais me interessavam. Aprendi logo a cuidar do ego e do colesterol.

BRUNA LOMBARDI

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